quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

3 anos na blogosfera

Esta casinha virtual completou três anos de existência nessa frenética rede que se apoderou do quotidiano de tantas pessoas.

Teve início num ano muito especial para mim, com boas memórias e também com o assinalar da reação do meu corpito aos injetáveis, numa abordagem um pouco mais profunda da PMA. Esta narrativa, ainda inacabada, aproxima-se das trezentas páginas, se todo o seu conteúdo for colocado num documento. Não imaginava que findo este tempo, TEC fosse o conceito dominante e que surgiria, com tanta frequência, o assunto perda gestacional. Olhando para mim e para a transformação que sofri nos últimos 3 anos, vejo que a balança evoluiu ao mesmo ritmo das palavras, a natureza tratou vigorosamente de mudar a cor do meu cabelo para dois tons, as minhas emoções mudaram (ainda não sei classificar bem em que medida) e encontro-me na mesma situação daquela altura: mãe de uma ideia.

Daqui a aproximadamente um mês vou embarcar na procura de algo diferente, gostaria até que se traduzisse em respostas, lá em Lisboa. Nos anos 50/60, o meu avô paterno fez também incursões à capital em busca de uma solução para um problema de saúde de um dos seus 10 filhos. Pelos relatos que o meu pai fazia da condição do seu irmão, suponho que sofresse de algum tipo de distrofia muscular em que nem se conseguia manter em pé. Arrastava-se e tinha um grande sentido de humor. Infelizmente faleceu com 12 anos. O meu pai falava sempre carinhosamente dele. As viagens que o meu avô fez, determinado em providenciar ajuda, foram em vão. Não sei se me vai acontecer o mesmo mas agora que me encontro perante este cenário em que praticamente é o meu último recurso, vou em frente. Só há uns dias é que me recordei deste episódio relacionado com o meu avô e o tio que nunca conheci. Admiro a sua força por fazê-lo, apesar das enormes dificuldades que enfrentava. Tratava-se de um filho, está tudo dito.

As viagens estão reservadas, vamos de comboio. Estou a cruzar os meus dedinhos para que a CP não faça greve.

Já que o ano se aproxima do fim vou aproveitar este post para desejar a todos uma saída de 2018 com paz no coração e uma entrada em 2019 com forças restabelecidas. Obrigada por estarem desse lado, pela vossa generosidade. Aos pequenos que entretanto nasceram, que reconheçam nas suas mães e pais o exemplo de determinação e tenacidade; aos homens e mulheres que estão nesta guerra injusta e procuram aqui alguma inspiração (se é que a transmito) lutem, lutem muito; aos curiosos que acompanham esta novela e felizmente não passam por esta tortura ou não precisam de enfrentar este bicho papão, são sempre bem vindos à minha humilde casa virtual, juro que tenho tentado escrever um final feliz mas a hora não chega. Vocês todos enchem-me o coração e aquecem a minha alma que por vezes anda moribunda.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Consulta agendada

Foi na sexta-feira que liguei para a CUF Descobertas e no início desta tarde recebi a chamada com a marcação da consulta. O privado tem uma rapidez processual a que já não estou acostumada. Habituei-me ao longo dos anos a aguardar, aguardar, aguardar, desesperar, até que o telefone toque. A consulta será no dia 1 de fevereiro de 2019, às 13 horas. Pareceu-me uma data razoável atendendo à hipotética procura que o médico tem. Agora é ver se é mais viável ir de comboio ou avião. A propósito de avião, alguém tem conhecimento se recentemente o primeiro voo matinal Porto-Lisboa, pela Ryanair, tem sido pontual? Já fiz essa viagem noutras alturas, sem qualquer inconveniente mas no verão passado houve atrasos descomunais para outras zonas, que chegaram a afetar-me nas férias.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Domingo, pois claro...

A intensificação das dores deixava adivinhar que estava para chegar e, em mais um domingo, apareceu. Que previsível...

Lisboa no horizonte

Após horas de pesquisa, não me sentia confiante em marcar consulta com algum profissional daqui do norte. A experiência que tive em hematologia não me deixou confortável para arriscar alguém que pudesse andar com suposições e principalmente silêncios, à semelhança do que tem acontecido até aqui.

Entrei em contacto com o Hospital CUF Descobertas para tentar marcar uma primeira consulta com o Dr. J. L., pois tinha lido que ele não aceita primeiras consultas (o que é, no mínimo, estranho). Quando fui atendida e referi que desejava marcar consulta, ouvi essa mesma história, no entanto pediram-me que aguardasse, para confirmarem se ele estaria recetivo a fazê-lo novamente. Claro que antes da "confirmação" solicitaram-me algumas informações sobre o que me levou a entrar em contacto com o hospital e se tive recomendação do Dr. J. por parte de alguém. Respondi que tento ser mãe há 7 anos, estou a ser acompanhada pela Unidade de Medicina de Reprodução do HSJ e que me encontro a passar pela quarta perda gestacional. Pessoalmente acho que este entrave é uma manobra de marketing ou então um filtro para não sobrecarregar a agenda do médico. Alguns minutos depois da música que me dava vontade de chorar ouvi do outro lado que sim, ele aceita novamente primeiras consultas. Estranho, não?! Será que é para nos sentirmos especiais e esperançosas? O único senão é que a administrativa ainda não começou a organização da agenda de 2019 e terei de aguardar que me contactem para indicar a data. A pessoa que me atendeu leu um pequeno parágrafo que sintetizava a descrição do meu caso para eu dizer se concordava/discordava ou se queria acrescentar alguma coisa. Quis também saber se a recomendação surgiu de algum médico ou paciente e confirmei que foi através de paciente. Aproveitei para dar umas informações adicionais como o número total de transferências realizadas e de embriões, assim como a altura em que as perdas têm ocorrido. Soube que quem organiza a agenda lê essa síntese. Inicialmente perguntaram se queria consulta de ginecologia ou obstetrícia, após o micro-resumo fui proposta para consulta de trombofilia. As marcações são efetuadas pelo juízo de valor daquelas palavrinhas que vão ser traduzidas numa espécie de prioridade? Até ao momento isto parece um pouco ficcionado e fora do planeta a que estou habituada. Aproveitei para esclarecer questões relacionadas com exames que deva levar, se posso fazer registos com a síntese dos procedimentos e é nisso que me tenho debruçado, já que tenho pouca coisa oficial na minha posse. Não tenho todos os relatórios das TEC, em alguns há erros de datas, copy paste descontextualizado e a informação é quase nula. Eu, na qualidade de paciente, acho que aquilo pouco ou nada diz, se eu fosse um profissional de saúde que quisesse tirar alguma conclusão a partir daquele documento ficaria a saber o mesmo. É impossível avaliar-se adequadamente alguém com um relatório daquela natureza. Do hospital o que me faz mais falta é o resultado dos cariótipos e da biópsia da histeroscopia (sobre isto nunca me disseram nada), só me prescreveram o antibiótico. Vou ver o que posso fazer em relação a isso. Se calhar arranjo consulta em Lisboa antes de conseguir essas cópias.

Já elaborei uma tabela em que, em apenas uma página, sintetizei tudo sobre as sete transferências. Incluí dados sobre os embriões, as datas em que os medicamentos começaram a ser introduzidos, resultados de beta, perdas de sangue, em que momentos foram feitos o estudo das trombofilias, histeroscopia e ecografias relevantes. Estou orgulhosa desse trabalho e espero que venha a ser útil. Vou elaborar outra tabela com algum histórico relativamente aos ciclos (neste caso ausência deles), hipotiroidismo, induções realizadas com citrato de clomifeno, IIU e FIV. Assim, em apenas uma folha, vou resumir 24 anos do meu sistema reprodutor. Este blogue foi uma ajuda gigante, facilitou muito mais do que se tivesse de reunir e analisar papeis.

Atualmente e desde há dois dias, sinto dores menstruais que hoje estão mais intensas mas até ao momento ainda não se traduziu em operação de limpeza. Este cedo anúncio indica que o útero não vai ser brando.

Estou a tentar reerguer-me e virar novamente a página desta coisa maldita que vai entrar comigo, daqui a umas semanas, nos 39 anos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Beta 3 - TEC 7

Mais um final, o quarto... O resultado foi negativo.

Segue-se nova reunião em janeiro para analisar o extraterrestre. Nessa altura entrarei em contacto com o HSJ para saber se há alguma coisa definida. Enquanto isso vou seguir a sugestão de procurar alguém especializado em abortos de repetição. Do que tenho visto na web, aqui pelo Porto não há ninguém que se dedique a essa área. Estou inclinada em marcar consulta com o Dr. Pedro Xavier mas não sei se será a melhor opção nesta área geográfica.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Atualização

Não deve faltar muito para me despedir do meu pequeno. Desde ontem à noite a tonalidade rosada tem feito parte da minha rotina. Também é típico desta altura, após o beta. As minhas perdas gestacionais têm sido precedidas por uma maior atividade intestinal e só agora é que estou a fazer essa associação, porque está a voltar a acontecer. Desde que comecei a ter os sinais coloridos, na semana passada, saio sempre de casa com um penso Tena Lady, daqueles bem generosos, para não ser apanhada desprevenida. Normalmente os episódios infelizes têm acontecido ao domingo, ao final da tarde. Da segunda vez estava na terrinha, em casa da minha mãe e na terceira vez, no meu lar.

Não me sinto segura nem motivada para tratar de assuntos natalícios. Tenho saído praticamente apenas para trabalhar, evitando andar sem necessidade, não vá o problema ser excesso de movimento. Desde que fiz esta transferência tenho sido mais comedida na minha atividade diária, em relação às outras vezes, no entanto não está a surtir efeito.

Isto está a tornar-se um maldito hábito que não fica mais fácil de aceitar. Não me conformo, é impossível encolher os ombros por achar que simplesmente aconteceu ou porque estava destinado ser assim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Beta 2 - TEC 7

Que enredo mais estapafúrdio o meu percurso traça. O beta está a aumentar devagar, devagarinho. Onde já vi este filme? Não sei o valor concreto, porque a enfermeira não entrou em detalhes, só disse que era na ordem dos quarenta e tais. Foi também alertando que a probabilidade de resultar é praticamente nula e daqui a uma semana volto a colher sangue. Não perguntei nada sobre a medicação, vou continuar a tomar tudo normalmente. Sei perfeitamente qual o destino desta gravidez mas estou feliz pelo pequeno lutar com as poucas forças que tem, fruto da minha falta de capacidade para fazer algo por ele.

Curiosamente hoje os sintomas arrebitaram um pouco e as perdas diminuíram. De sábado a uma semana completarei 6 semanas, a altura em que tradicionalmente dá-se a viragem das minhas gravidezes. Se podia ser mais fácil? Poder, podia, mas não se trataria de mim, nem seria a mesma coisa... Viva a época natalícia que se avizinha!

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Ideias soltas

Trabalhei todo o dia sem grande oportunidade para pensar no que está a acontecer, porque sou completa e constantemente absorvida e solicitada, o tempo integral. Quando cheguei a casa apercebi-me da minha exaustão. Estou cansada a vários níveis e desapontada comigo. Vou perdendo a capacidade de tomar decisões, porque não sei para onde me virar. Isto está a chegar a um nível anedótico e completamente ridículo.

Mais uma vez está a ocorrer um padrão. Na primeira TEC das FIV 1 e 2 os resultados foram negativos. Na segunda TEC de ambas as FIV os beta-hCG foram na ordem dos trinta e tal. Que ironias mais parvas e sem lógica nenhuma. Essas comparações não acrescentam nada a este mistério das gravidezes relâmpago. Se realmente se confirmar que se trata de outra gravidez bioquímica, desejo ao menos que o assunto encerre rapidamente para tentar passar um Natal mais despreocupado que o ano passado.

Hoje a tensão mamária está a fazer-se sentir com mais intensidade para me lembrar que só vai parar quando menstruar. Este constante incha e desincha provocado pela medicação irrita-me pela quantidade de vezes que aconteceu sem servir de nada. Não funciono pela via natural nem pela artificial. Com os embriões de FIV, o processo mais natural desta história, a novela terminou. Restam os dois manipulados (fruto de ICSI) que não sei no que podem dar.

Vou repousar, o meu cérebro está a entrar em modo de suspensão.

Beta 1 - TEC 7

Sim, beta 1. Só não acerto na chave do Euromilhões... O resultado foi um inebriante 32,20. Mais um nim. Tiveram o bom senso de pedir para repetir na quarta-feira. O meu lado bruxa adivinhadora diz que vai estar mais baixo e porquê? Desde ontem que tenho notado que a fome e a vontade de fazer xixi têm diminuído. Quando a fome diminui, diz-me a experiência que a gravidez já era.

A Diretora estava abatida enquanto eu, pelo contrário, sabia de antemão o que ia acontecer. Ela ficou surpreendida que quando tenho resultado positivo haja sempre perdas. Pode ser que essa informação a faça pensar em algo que esteja a falhar. Mantenho a medicação para o caso de haver um milagre. As médicas tinham uma ligeira esperança que o próximo valor duplicasse mas avisei-as para não contarem muito com isso devido às redução dos sintomas. Conheço-me e isso irrita-me.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Dia 13 - TEC 7

Poucas horas me separam do veredito. Será uma das datas que vai marcar o meu ano de 2018, qualquer que seja o resultado. Neste momento vários pensamentos vagueiam na minha mente e nenhum deles me traz segurança ou confiança. Durante muito tempo acreditava em mim, na minha capacidade de resolver as coisas. A infertilidade tirou-me o tapete, mostrou-me uma realidade diferente e desmotivante. Tem contribuído para que eu não acredite em algumas frases feitas que são fruto da experiência ancestral.

Amanhã vou fazer o beta com a mesma determinação de todas as outras vezes, por muito que isto me doa, porque não devia ser assim.

Leio carinhosamente todas as mensagens de incentivo das maravilhosas mulheres que partilham a sua emoção comigo. Pode parecer ingratidão não responder mas estou com uma disponibilidade muito limitada que me dá pouco tempo para descansar e até mesmo usufruir de uns minutos em família. É muito importante a vossa força e constatar que a Ciência está a dar cartas. Há também algo notório que é o facto de quem entra neste mundo, mesmo depois de conseguir deixar a besta K.O. continua de certa forma a viver a dor que a infertilidade causa.

Obrigada, mesmo, são fabulosas!

sábado, 1 de dezembro de 2018

Dia 12 - TEC 7

Às 8h era hora de colocar o Progeffik, fui à casa de banho e... esqueci-me completamente que precisava da primeira urina. Tratei da minha vida enquanto me mentalizava que não podia haver xixis durante pelo menos 4 horas. Como trabalhei até às 13h, ou seja, 5 horas depois, voltei a enfrentar a besta que me atormenta. Aquela canetazita inquisidora estava de frente para mim com aquele ar severo. Realizei a prova e enquanto aguardava se tinha sido aprovada ou reprovada, voltei a constatar que a linha tardou a aparecer. Ela surgiu, um pouquinho de nada mais escura que ontem. Não me apaziguou.

Adorava evitar pensar que se trata novamente de uma gravidez bioquímica. Adorava ser surpreendida com um desenrolar glorioso para afastar finalmente esta tormenta. As partidas nefastas têm persistido. Penso, no entanto, que eu permiti que estas acontecessem a partir do momento em que me envolvi nesta luta.

Sou cada vez mais questionada se não ponderamos a adoção. Não, não pretendemos fazê-lo. Esta resposta que parece curta e fria, tem no seu âmago várias considerações que vão ficar apenas entre nós.

Não vou fazer mais testes, irei aguardar pelo beta que não deverá acrescentar muito mais informação.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Dia 11 - TEC 7

Acordei esta manhã com perdas um pouco mais abundantes entre rosa e avermelhado que me deixaram alarmada. Essa situação só me aconteceu anteriormente depois de fazer beta, pouco antes de ocorrer já se sabe o quê. Ao longo do dia as perdas foram iguais às de ontem, ou seja, castanho claro. A bexiga tem enchido ainda mais rapidamente, uma vez por outra sinto uma dor, a fome também vai surgindo e a tranquilidade está a diminuir.

Diariamente venho almoçar a casa e estava determinada - mas também receosa - em comprar um ou mais testes para desvendar (ou não) o mistério. Fui a um Continente Bom Dia perto do meu palácio que tem uma micro-parafarmácia e não havia testes de gravidez, tinham esgotado. Quem sabe não seria um prenúncio.

Agora à noite, ao regressar do trabalho, comprei dois que são sensíveis para valores acima de 25 mIU/mL. Esta inteligência pura que vos escreve tomou coragem e enfrentou o monstro. Como referi anteriormente, as minhas idas ao WC têm sido assíduas, pelo que a urina não estava propriamente concentrada. Fui ficando furiosa à medida que o teste só mostrava a linha de controlo e do lado do teste, nada... As instruções dizem para ignorar resultados positivos após 10 minutos mas mais ou menos aos 5 minutos apareceu uma linha muito, muito clara do lado do teste. Estou/estive grávida, é um facto que já sabia. Agora vem o dilema. Deveria ter aguardado mais algum tempo para fazer o dito cujo, por isso é que deu tão claro? Tenho, como é costume, pouca hormona beta-HCG? Estarei novamente perante uma gravidez bioquímica que mal começou está a terminar? Amanhã de manhã vou usar o outro teste, talvez vá novamente à farmácia comprar mais um para fazer domingo de manhã ou aguardo por segunda, porque de nada vai servir andar neste controlo obsessivo.

Desde que comecei a ter estas perdas, o meu sono tem sido sempre invadido por sonhos relacionados com a gravidez. Nunca terminam bem. Imagine-se que até sonhei que expulsei um pequeno saco. O estupor do diabinho até nos sonhos me assombra.

Gosto tanto de tranquilidade e paz mas elas não querem nada comigo. Outra coisa que me está a enervar por antecipação é que no hospital só é feito um beta. Se der positivo, marcam logo a ecografia das 6 semanas e até lá vêm mais umas semanas de sufoco. Durante esse período tem sido costume ter hemorragias e/ou vou pensando que no dia em que chegar a esse grande marco que nunca assinalei devidamente, não se encontra qualquer espécie de vida.

Reitero que pior do que esperar pelo beta é o que se vive depois de um positivo. Há muita gente que não tem a noção da sorte que lhes calha quando só se preocupam em ter um resultado positivo, porque o resto é-lhes a seguir um dado quase adquirido. Quando leio dezenas de vezes mulheres a almejarem apenas o "tão desejado positivo" penso no meu percurso.

Já disse e repito para quem é pouco experiente nestas andanças ou não teve paciência para ler as centenas de páginas que compõem este blogue: um positivo não é garantia de NADA! Estou no décimo segundo embrião transferido, sétima TEC, quarta gravidez e o meu (anormal) histórico é prova disso.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Dia 10 - TEC 7

Como me sinto hoje? A frequência de idas à casinha para me ver livre dos líquidos tem aumentado, as perdas acastanhadas estão como ontem, algumas dores vão passando por cá, a fome anda de mãos dadas comigo e fui invadida por umas náuseas. Estou tentada em fazer um teste, no entanto, penso sempre na possibilidade de estar completamente iludida e passar o fim de semana furiosa e triste ao mesmo tempo, ou ficar eufórica com um positivo e na segunda dar de caras com um beta ali para os lados de uma gravidez bioquímica. Não sei o que fazer. O problema é que tenho 90% de certeza que o teste ia dar positivo. Raios! Não podia ser mais simples? Como diz o meu marido "estou como um burro em cima da ponte".

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Dia 9 - TEC 7

Estou bastante animada e porquê? Começaram as perdas! No passado ficava aterrada com isto. Ao fim de 7 TECs é um excelente indicador. A pontualidade britânica com que este fenómeno ocorre deixa-me surpreendida, porque ao longo da minha vida o meu sistema reprodutor foi sempre esquisitinho. Sempre que tive perdas de sangue nesta fase o beta foi positivo. O Xeidafome está de volta, noto que a bexiga está a ficar um pouco mais ativa e umas leves cólicas menstruais vão dando sinais. Se não estou grávida, a biologia está a pregar-me uma partida de mau gosto.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Dia 8 -TEC 7

A contagem decrescente vai começar lentamente. É nesta fase que costumam aparecer aquelas duas personagens que gostam de pousar nos meus ombros e sussurrar aos meus ouvidos. Há o inocente que só sabe dizer para não me preocupar, porque vai correr tudo bem. O outro diverte-se a rebaixar-me, insistindo na ideia de que, por mais malabarismos que faça, jamais vou conseguir dar a volta a isto. Este filho da mãe para já tem mostrado que a razão está do lado dele. É uma criaturinha desprezível e irritante!

Será que daqui a umas horas estarei a ver sangue?

Agora à noite senti algumas dores na barriga mas nada de muito expressivo. Não me posso esquecer que isso acontecia com mais frequência quando tomava três comprimidos de Estrofem e não dois, como tem sido nestas duas transferências.

Quero manter-me otimista mas é tão difícil...

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Dia 7 - TEC 7

Até agora, no meu histórico, não tem sido costume haver factos assinaláveis. A viragem significativa poderá ocorrer presumivelmente a partir de quarta-feira. Permanecendo depois dessa altura a ausência de sinais, será fácil prever o que vou ouvir daqui a uma semana. Eu sei que não sentir ou não ver nada (sangue) pode ser sinónimo de positivo, não me incomodava minimamente ser surpreendida dessa forma. De acordo com a minha experiência das três curtas gravidezes houve alguns padrões comuns antes do beta que foram pontadas fortes no útero, perdas de sangue e sensação de fome, esta última mesmo em cima do dia da análise ao sangue. As dores sucederam também em negativos, à exceção do que antecedeu esta transferência, em que nem parece que fiz TEC.

A fase que realmente me tira mais sono vai começar. Resta-me pois, aguardar que o tempo passe.

domingo, 25 de novembro de 2018

Dia 6 - TEC 7

Não tarda terá passado uma semana desde a TEC. Poderão surgir pequenas perdas de sangue nos próximos dias. Gostava que a época natalícia deste ano fosse pautada por uma energia diferente da do ano anterior. No final de 2017 fui assombrada pela proposta surreal de ser internada no dia de Natal ou de ano novo para fazer aspiração do que restava da minha menina. Acabei por fazê-lo a dois dias da véspera de Natal. O vazio que sentia era gigante enquanto permaneci todas aquelas horas na sala de dilatação. O meu corpo estava gélido e tentei a todo o custo distrair-me com uma revista básica de jogos que me acompanhou tantas vezes nas salas de espera, quer do serviço de Medicina de Reprodução, quer na urgência de Obstetrícia. Curiosamente comprei essa mesma revista no dia em que abortei pela segunda vez, para me manter ocupada enquanto aguardava por um beta que confirmasse que aquela gravidez estava definitivamente sentenciada. Vão perdurando detalhes na memória, olho para trás e penso como esta novela vai longa.

Dia 5 - TEC 7

O dia foi de muito trabalho, com os minutos todos controlados numa cadência que correu bem. Não houve nada de significativo em termos de sensações ou "sintomas", reinou o sossego. A presumível implantação poderá estar a acontecer, só tenho de aguardar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Dia 4 - TEC 7

Nas últimas 24 horas não houve sinais de sangue. Algumas vezes senti umas ligeiras dores do género das menstruais e o volume das mamas está a começar a aumentar. Não é novidade nenhuma, quer nos positivos que tive, como nos negativos, por isso a minha expectativa não mudou. A TEC mais atípica até agora foi a anterior.

Esta semana passou a voar, oxalá a próxima também seja assim para em breve poder ter algo mais definido sobre os tempos que se seguem (como se fosse fácil fazê-lo). O plano mais imediato é a marcação de férias. Costumamos tratar do assunto muito cedo para ser mais económico mas, como sempre, desde que entramos neste mundo obscuro, tenho de fazer contas às semanas. Semanas de hipotéticas gestações, supostas DPP, previsões acerca de datas de TEC, possíveis períodos pós-parto, semanas críticas de 6 e 8 semanas de gravidez que me trouxeram más experiências enfim, assuntos que arrastam consigo a infertilidade, mesmo quando planear férias é sinónimo de idealizar coisas boas. Se esta TEC finalmente trouxer frutos e tudo seguir harmoniosamente, não haverá marcação de férias, porque o nascimento será na primeira quinzena de agosto. Nunca desejei passar um último trimestre de gravidez em pleno verão, mas não posso ser esquisita. Não sou daquelas mulheres que consegue planear, ainda antes de conceber, o minuto em que vai parir, por uma questão de jeito. Esse é um luxo que está totalmente fora do meu alcance.

O resultado do beta irá determinar se vamos efetivamente "laurear a pevide" no verão ou aguentar os cavalos mediante a evolução das semanas seguintes. Não sei se somos só nós que fazemos assim no que toca ao planeamento das férias. No meio deste caos gosto sempre de ter pequenos planos definidos para não ter uma sensação permanente que a minha vida está descarrilada.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Dia 3 - TEC 7

Continuo calma e confiante de que permaneço acompanhada de uma pequena vida irreverente, a multiplicar-se a bom ritmo.

Quando vim almoçar fui à casa de banho e fiz aquilo que instintivamente se torna frequente sempre que mergulhamos no mundo das transferências, que é analisar se há sangue. Para minha surpresa, apercebi-me da presença de uma coisinha minúscula sobre a qual não tive qualquer dúvida tratar-se de uma perda hemática. Pode ser um vestígio do ato médico, pois é muito cedo para se dar a nidação. A suposta altura em que esta poderá acontecer será no fim de semana.

A rotina medicamentosa ainda não está completamente interiorizada. Como são menos comprimidos, dou por mim a pensar se não estará a faltar nada mas chego sempre à conclusão que tenho tomado tudo direitinho. No total são "apenas" 8 considerando neste cálculo o Progeffik, e há ainda o bónus da enoxaparina.

Vou tentar manter-me positiva e confiar um pouco mais na capacidade do meu corpo conseguir ser bem sucedido nesta árdua tarefa.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Dia 2 - TEC 7

É impressionante como estou a passar por isto pela sétima vez. Sou uma repetente que teima em não progredir, raios me partam!

A gastrite está ao rubro há umas semanas, a barriga não está tão colorida como eu imaginava que fosse ficar. Felizmente uma em cada duas injeções não resulta em hematoma. Na primeira semana de Lovenox sentia um ardor intenso que começava pouco depois de administrar o líquido, quando este se estava a espalhar pela barriga. Essa sensação durava alguns minutos, mas atualmente a situação está mais suave.

Vou regressar ao trabalho com uma esperança vã de que irei manter-me serena e não necessitarei de me levantar permanentemente, nem ser solicitada simultaneamente por 5 ou 6 pessoas para executar algo... para ontem... Vou inspirar e expirar muito calmamente.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

TEC 7

Eu e o meu mais recente inquilino encontramo-nos no conforto do lar. Trata-se de um pequeno guerreiro que aguentou bem o frio, não perdeu uma única célula e mostrou garra ao exibir as suas habilidades ao começar a mudar a sua organização. Os pais estão orgulhosos do seu desempenho. Os seus dois irmãos continuam, por isso, no fresco.

Se na transferência anterior a bexiga tardou a encher, desta vez tive de ir à casa de banho esvaziar um pouquinho, uns dois minutos antes da TEC, para não haver um acidente. Pensei que não ia controlar a saída parcial ou até exagerar no volume libertado mas quando a determinação é grande, consegue-se até dominar o ato fisiológico! Mesmo assim, durante os 15 minutos deitada na marquesa, ansiei que o tempo passasse rápido para poder vestir-me novamente e ficar finalmente nas nuvens.

Foi passada uma receita de 6 caixas de Lovenox. Quando vi aquela quantidade fiquei assustada com o nível de confiança implícito naquela folha. 36 seringas vai bastante além da data do beta. Não vou ser desmancha prazeres e começar a imaginar os milhentos cenários que me assolam nestas alturas. Reconheço que esta TEC está a mexer comigo, inclusivamente sonhei na noite passada que me tinha esquecido de tomar o antibiótico, estava desleixada na preparação da bexiga e aconteceu mais alguma coisa que não estava a correr de feição. Quando acordei só pensei que nada daquilo iria ser real.

A medicação é para manter integralmente, vou ficar em casa hoje e amanhã e dia 3 de dezembro há beta.

Desejo muita magia da boa dentro do meu t0.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

TEC 7 agendada

O meu endométrio cresceu rapidamente como sempre e a classificação atribuída hoje foi de "maravilhoso". Tem 8,7 mm, ou seja, está no ponto para receber o 12° mini-nós. Vou manter a dose de Estrofem, porque dois comprimidos são mais que suficientes para o ninho estar fofo. Amanhã à noite inicio o Progeffik de 8 em 8 horas, o Lovenox é para continuar, assim como tudo o resto que tomo. A última novidade é a azitromicina (antibiótico) que vou fazer de manhã, no dia da TEC, numa toma única de 2 comprimidos.

A transferência será feita no dia 20, próxima terça, um ano e um dia após o último aborto em que jorrei incessantemente e me senti a mais reles criatura.

A propósito de antibióticos, foi curiosamente na TEC de há um ano que fiz antecipadamente 14 dias de amoxicilina na sequência da tortuosa biópsia que realizei aquando a histeroscopia.

A próxima etapa é aguardar serenamente que o embrião da palheta escolhida pela biológa evolua bem.

Quero muito que resulte. Sou o raio de uma pedra dura que, por mais água que me caia em cima, ainda não fiz jus ao provérbio.

domingo, 11 de novembro de 2018

Lovenox - a estreia

Em fim-de-semana de castanhas, mau tempo, frio e constipação, estreei-me ontem na administração daquele que quero que me acompanhe durante os próximos 12 meses. Ansiei por este momento, ao longo de TECs consecutivas, e esta alteração de protocolo trouxe-me alguma esperança. Poderá não passar de mais um balde de água fria. Tenho, contudo, de me agarrar a qualquer coisa que me tire desta descrença em mim que transformou uma parte significativa do tempo que tenho passado aqui pelo planeta.

A primeira marca já cá canta, pequena, redondinha e vermelha. Vou tornar-me numa espécie de caderneta onde vou colecionar cromos coloridos de diferentes tamanhos. Nada disso me importa, para ser sincera.

Atualmente encontro-me a tomar dois comprimidos de Estrofem, ácido fólico, aspirina 150 mg, Lovenox 40 e o meu bom e velho amigo Eutirox que há-de perecer comigo.

Sexta-feira, dia 16, farei mais uma ecografia. Estou a adiantar trabalho na medida do possível, porque prevejo que a TEC vá coincidir com mais um pico de trabalho e stress. Nessa altura terei de abrandar o ritmo de alguma forma, daí estar a preparar material para todos os contratempos que surgem quando a atividade laboral está ao rubro.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

7 anos

Como me custa perceber que passou tanto tempo... Este fardo está cada vez mais pesado e desconexo. Gostava de olhar para trás e não me arrepender de ter dedicado estes anos todos a uma utopia pois, até ao momento, não passa disso. É normal ao longo da vida realizarem-se sacrifícios em prol de um objetivo. A frustração acontece quando se constata que de nada vale a dedicação e persistência se o propósito não é atingido. Estou frustrada há muito tempo.

Não sei como será o meu estado de espírito daqui a um ano, se estarei a escrever um post intitulado "8 anos". De uma coisa tenho a certeza, não sou a mesma pessoa que era em novembro de 2011. Estou diferente, não sei se melhor ou pior.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

TEC 7 prepara-te, estou a caminho!

Após aguardar as horas da praxe pela ecografia, fui matar saudades da marquesa. O endométrio estava com 6 mm e os ovários tinham o ar sinistro de sempre. Feita a pergunta tradicional da duração dos meus ciclos, ouvi a pérola que me deixa furiosa. "Vai fazer o Decapeptyl." Após dizer, mais uma vez, que não menstruo com aquilo, a médica estava confiante que com os 6 mm muito provavelmente iria menstruar, embora houvesse uma hipótese remota de a espessura regredir (não seria inédito comigo).

Regressei à sala de espera a ferver, a pensar que os 4 meses necessários para que finalmente se pensasse em algo diferente, não tinham resultado em nada de novo. Só me lembrava que se me avisassem antecipadamente que ia voltar tudo ao mesmo, podia ter aproveitado setembro ou outubro para ir a uma clínica pedir outra opinião.

Algum tempo depois fui chamada para consulta. Ainda no corredor a Dra A. M. quis confirmar se era eu que não menstruava. Senti-me um ser humano, finalmente, após perto de 4 anos a ser acompanhada naquela unidade. Ser humano no sentido em que estavam a falar de mim, em particular, e não de "enlatados" que entram na linha de produção do vira o disco e toca o mesmo. Viram o registo da espessura do endométrio e falaram em Decapeptyl, ao que mencionei logo a ineficácia. Sugeriram Provera, como se eu nunca tivesse tentado tal medicamento mas prontifiquei-me a dizer que com esse nunca falhou.

Dei então hoje início ao ácido fólico, Provera e ao segundo dia do ciclo introduzo mais medicação. Serão dois comprimidos de Estrofem, aspirina (desta vez 150 mg) e a novidade, Lovenox 40! Finalmente a enoxaparina que eu sugerira noutras ocasiões e puseram sempre de parte. Não referiram o corticoide. Devem suspeitar que sou dos casos em que o efeito é contrário ao pretendido.

Aproveitei para perguntar relativamente à progesterona que poderia ser insuficiente, só através de análise se poderia aferir e no caso de ser baixa ter-se-ia de recorrer à via intramuscular. A diretora disse logo que lá isso não é feito. Acha até que exageram na quantidade de progesterona que prescrevem.

Quando o alerta vermelho chegar cá ligo para o hospital e por volta do sétimo dia do ciclo faço nova ecografia.

A descongelação é o que me preocupa mais neste momento.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Enfim contactada!

Classifico estes últimos 4 meses como um slow motion que parecia não terminar. Finalmente a equipa viu, reviu, remexeu, fez malabarismos com o meu processo. Nesta manhã em que tentei diversas vezes ligar para o hospital sem sucesso, quando pegava nas minhas coisas para vir almoçar a casa, o meu telemóvel estava a vibrar. Vi que a chamada era do hospital. Atendi imediatamente e do outro lado falava uma das enfermeiras do serviço. Disse-me para eu organizar a minha vida e escolher quando queria ir ao hospital. Quando tivesse definido data ligaria depois para o HSJ. Respondi na hora que amanhã ou sexta estava perfeito. Viram a agenda para amanhã e ficou marcada ecografia para as 10h para se poder tratar da preparação da TEC. Numa das vezes que contactei para saber se havia notícias dei a indicação que a última vez que menstruei foi quando parei o Progeffik (após o negativo da TEC 6). A enfermeira viu essa anotação e assim evitou-se o questionário do costume.

Fiquei com a pulga atrás da orelha e com a sensação que nada de novo vai ser feito. Pode ser impressão minha mas amanhã já esclareço as dúvidas.

Ando há uns dias com a minha gastrite de estimação on fire. Desta vez sei que é do stress causado tanto pelo trabalho, como pelo vazio de notícias neste tempo todo. À partida, do ponto de vista laboral, as próximas duas semanas vão ser um bocadinho mais calmas para contrastar com o constante reset cerebral e as mil e uma solicitações em simultâneo que a minha atividade exigiu no último mês.

Espero manter-me serena a todos os níveis.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Quando as mudanças surgem

Há dois meses fui a uma entrevista na perspetiva de colaborar num projeto desenvolvido por umas investigadoras de uma instituição de ensino superior do Porto. Iria prestar serviços durante os meses de outubro e novembro, a tempo parcial, mantendo a atividade que já desempenhava noutro local. Tive de ser franca quanto à hipótese de não estar tão disponível como esperado, devido aos tratamentos. A equipa estava sensível para a situação, até porque vários elementos passaram pela infertilidade, embora durante menos tempo que eu. Fui selecionada e apesar de estar consciente que esta experiência poderia coincidir com a realização de nova TEC aceitei arriscar, pois tem sido uma constante conjugar uma mudança com a rotina do hospital. Tem de ser, caso contrário a palavra estagnação teria tomado por completo a minha vida.

Há umas duas semanas pensei com os meus botões que seria uma boa ideia voltar à universidade no próximo ano letivo. Ainda não sabia muito bem em que modalidade e área, então fui ver as necessidades do mercado. Houve um anúncio que me prendeu a atenção pela possibilidade imediata de me proporcionar uma situação laboral mais confortável do que aquela que tinha até então. Nestes últimos anos trabalhei a tempo parcial, em regime de prestação de serviços, para compatibilizar com os tratamentos. Houve pelo meio hipóteses de trabalhar noutros locais, na minha área de formação. Não me senti, contudo, moralmente capaz de aceitar tendo, por exemplo, de me ausentar do serviço logo no dia seguinte à minha apresentação, fazê-lo outra vez na mesma semana e novamente duas semanas depois... Seria injusto tratando-se ainda por cima de uma substituição temporária. Abdiquei de oportunidades e adequei a minha vida profissional ao projeto de maternidade que cada vez mais considero uma ideia. Esta ideia sugou-me e dificilmente se irá materializar. Financeiramente levou-me a um limiar que nunca imaginei atingir com esta idade. Não tinha qualquer hipótese de ser autossuficiente se estivesse sozinha. Mas não estou só neste processo. Somos dois e embora o meu marido dissesse que estávamos a fazer o que devíamos para levar a água ao nosso moinho e que o trabalho dele nos possibilitava levar uma vida digna, não me sentia bem estar anos a fio a viver desta forma. Tendo em conta esta situação arrisquei responder ao anúncio, que correspondia a uma proposta de trabalho a tempo inteiro, com contrato. Fui contactada no dia seguinte e nessa mesma tarde fui entrevistada. Mais uma vez abordei a questão dos tratamentos para perceber a abertura que havia em relação às ausências (que sempre tentei que fossem o mais breve possível). Caso fosse manifestada alguma relutância, punha logo de parte a proposta. Não foi isso que aconteceu. Do outro lado houve compreensão. Expliquei em traços gerais em que circunstâncias é que precisaria de faltar e, convenhamos, não deve acontecer muito mais vezes. Tive de responder se aceitava ou não ficar com o lugar e decidi que sim.

A ideia do regresso ao ensino superior ficou em suspenso. Gostava imenso de o fazer mas não estou ralada com isso, temos de fazer opções.

Quanto a TECs não há nada a dizer. A suposta reunião em que o meu processo seria novamente discutido foi na quarta-feira passada e a ordem é aguardar uma chamada. O meu telemóvel anda tão sossegado que, de vez em quando, pego noutro telefone e ligo para o meu número para saber se está a funcionar. Desde o dia do último negativo paira na minha cabeça um som idêntico ao que é usado para simbolizar a brisa dos locais onde não acontece nada. Ainda pensei que em agosto fosse acontecer alguma coisa, à semelhança do ano passado em que fiz a histeroscopia. Mas não, ninguém se manifestou do lado de lá da Circunvalação. Se as transferências se estavam a fazer menos espaçadas, como me foi dito, então deve ter havido uma reviravolta e vigoram novamente os vários meses. A frequência comigo tem sido a cada 4 meses. Agora com esta ausência de notícias começo a duvidar até que seja feita em outubro, quando completam 4 meses desde a TEC 6. Estamos a 18 de setembro e se fosse para fazer um scratching endometrial suponho que fosse por esta altura.

Ah, ia-me esquecendo de contar. Aquela fase de adolescência que tive em fevereiro e março, pouco tempo depois da aspiração, já passou. Sou novamente eu, a amenorreica, a disfuncional, que menstruou pela última vez no dia 9 de julho, depois de suspender o Progeffik.

Vamos entrar no último trimestre de 2018 e até agora, neste ano civil, fiz apenas uma TEC. Não imaginava que nesta altura fosse estar tão parada ao nível dos tratamentos. 4 meses separam-me dos 39 anos e custa-me perceber isso. Estou desanimada por ver que não falta muito para o ano terminar. A sensação que tenho é que foram dados mais passos para trás do que para a frente. Estes meses, desde a última transferência, têm custado imenso a passar pela incógnita da decisão da famigerada reunião. E a tortura continua com o silêncio do telefone. Não há conclusões acerca de nada, não há datas nem planos que me tenham sido comunicados. A dúvida sobre tudo o que aconteceu nestes quase 7 anos é cada vez maior. Preciso que isto chegue ao fim, seja ele qual for.

terça-feira, 17 de julho de 2018

40 semanas

Era uma vez um casal que, um dia após ter contraído matrimónio, realizou mais uma transferência de embriões. Esse ato médico resultou na terceira gravidez, desse mesmo casal, num intervalo de 13 meses. Hoje, algures no mundo, alguém completa 40 semanas desse estado de graça. Não é o casal referido no início, porque a Mãe Natureza (soberana) entendeu que eles não o merecem.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Beta - TEC 6

Como contava, o resultado foi negativo. A Diretora disse que o meu caso é complicado e não foi tomada nenhuma decisão sobre o que se segue, porque vão discutir em reunião. Não estou arrasada, era o que esperava apenas.

Penso que virá um scratching endometrial. É algo que também fazem lá e nunca foi tentado comigo. O mais parecido que houve foi a biópsia na histeroscopia, em que engravidei na TEC que fiz a seguir. Virá mais uma dose de sofrimento, não sei se melhor ou pior que a biópsia. Parece que ainda não passei o suficiente para isto dar a volta.

O embrião era excelente e como tenho vindo a dizer, o problema é quando colocam os pequenotes em contacto comigo.

A próxima transferência deverá ser por volta de setembro. Vou manter outra vez em águas de bacalhau os meus planos, para continuar a conseguir compatibilizar a minha vida com o corridinho ao hospital.

Não irei precisar de viajar, daqui a uns dias, munida de medicamentos e pensos XXL para o caso de haver outro aborto.

A única orientação, para já, é aguardar uma chamada que vai acontecer depois de deliberarem alguma coisa. Normalmente é à quarta-feira de manhã que reunem.

Obrigada a todas pelo carinho e o tempo que dispensam da vossa vida para acompanharem esta trajetória completamente irregular.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Dia 13 - TEC 6

Aqui estou, novamente, a umas horas de conhecer mais um resultado. No passado cheguei a iludir-me com alguns sinais que posteriormente se revelaram como efeitos secundários. Hoje houve pouquíssimos instantes em que senti uma ligeira pressão no útero. Admito que, atendendo ao que não notei durante esta espera, um positivo chorudo deixar-me-á atónita. Pézinhos bem colados à terra é o que se exige nesta fase. Em qualquer fase, para ser mais realista. Não sei bem o que pensar, sentir, planear. O que preciso mesmo é de fazer a colheita de sangue e saber se sim, nim ou não.

Mal saiba o resultado e esteja de volta a casa, dou notícias, como sempre fiz.

Dia 12 - TEC 6

Mais do nada. Arrisco dizer que depois de amanhã vou ser confrontada com o terceiro negativo da carreira. É uma hipótese perfeitamente viável, faz parte destes processos, especialmente quando se aposta apenas num embrião. Aceito melhor esse resultado que o sufoco de um positivo que termina mal. O reverso da medalha é que isso significará manter a vida em suspenso até fazer nova TEC, mas aguento outro ano de sacrifício, porque será o último. Estou ávida de mudança, no entanto devo ter mais um pouco de paciência.

Sou seguida no HSJ desde dezembro de 2014. Desde essa altura não tem havido muitos períodos em branco. Têm sido anos intensos de constante descoberta e cada vez mais dúvidas. Tanto foi feito embora não pareça, porque o piso 3 tornou-se como que uma extensão da minha casa onde passo muitas horas. O Hospital Pedro Hispano foi um calhau no meu sapato. De encaminhamento em encaminhamento (com muita incompetência pelo meio), adiamentos de consultas e dificuldade em chegarem à conclusão que o Dufine não é a minha praia, perdi aquela juventude que podia ter dado uma mãozinha preciosa a tudo o que lhe sucedeu. Como não vale a pena chorar sobre o leite derramado, resta-me queimar os últimos cartuxos.

Na primeira consulta que tive no HSJ a médica disse "Não se preocupe que vai engravidar". Ela teve razão, pelo menos três vezes... Podia ter dito "Não se preocupe que vai conseguir ter um filho".

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Dia 11 - TEC 6

Julgo ter sentido algo semelhante a uma pequena dor menstrual, por duas vezes. De resto, tudo pacífico.

Faltam 3 dias para o primeiro beta de 2018. Este processo arrastou-se devido ao desenvolvimento irregular da última gravidez que me levou ao bloco, depois um momento teenager hormonalmente descontrolado atrasou um pouco mais o início da estimulação. A hiperestimulação essa, já contava com ela. O que me impressionou foi ter feito a transferência sensivelmente dois meses após a punção e não três, como em 2016.

Entrámos no mês 7 do ano, que choque! Não tarda, estamos de volta à época natalícia e quase de seguida os 39 anos chegam. Olho para trás e não vejo progresso. Ambicionava ser mãe pela primeira vez até aos 35 anos. Do desejo à realidade vai um conjunto de experiências fracassadas que me levaram a redefinir ideais. Não estou a matricular nenhuma cria na escola, pelo contrário, continuo a dedicar o meu quotidiano a uma ideia criada, nada palpável. Este vazio de matéria recebe mais amor, atenção e sacrifício que muitos filhos de gente que não merece o ar que consome ao planeta. Só posso estar a receber uma lição, penosa, porém vou ter de aprender algo com tudo o que tem acontecido desde novembro de 2011.

Dia 10 - TEC 6

Há muita informação que retive destes anos de consultas e tratamentos mas existem detalhes dos quais só me recordo quando vou ao histórico de posts publicados no blogue. Já me socorri várias vezes de dados aqui escritos. Dantes tinha registos em papel com as datas de consultas, alterações de medicação, menstruação, porque é frequente as médicas perguntarem. Se continuasse a recorrer a folhas ou agendas o manancial coletado seria vasto. Felizmente este registo digital tem a facilidade de armazenar tudo isso e muito mais, além de possibilitar a partilha da forma como vivo a infertilidade.

Nunca tive pretensões de ocultar ou amenizar aquilo que sinto. Acho que tem de se pôr fim à imagem de que a infertilidade é uma coisa sem importância que se resolve sempre. Que isto é fruto apenas de um estado de ansiedade e que, quando menos esperamos, ou seja, nuns instantes em que não estamos acometidos dessa dita ansiedade dá-se aquilo que toda a gente é naturalmente capaz. Falei já deste assunto nos primórdios do blogue mas passados todos estes anos, ainda oiço vindo da parte de pessoas bem próximas, a referência à dita ansiedade. Essa palavra também está incluída no rol das que gostava de banir do dicionário. Questiono-me por que é que em vez de estar a tomar 9 comprimidos por dia não passo apenas para 2: o Eutirox e um ansiolítico? Aparentemente seria este último o salvador da natalidade da comunidade infértil. Querem ver que a infertilidade é um estado psicológico e não um acometimento físico?

Dá para ver que continua sem acontecer nada de percetível por cá. Sim, comigo está tudo igual. A única coisa diferente é que falta menos tempo para o dia 5.

domingo, 1 de julho de 2018

Dia 9 - TEC 6

Chegou o último fim de semana que antecede o beta. A ausência de sinais fisiológicos permanece. Estou curiosa para saber o que isto significa. A rotina medicamentosa está completamente entranhada e pode permanecer por muitas semanas, que não me importo nada.

Estou a entrar nos 6 anos e 8 meses de luta. Fala-se na crise dos 7 anos nas relações dos casais. Neste caso, os 7 anos de frente a frente com esta doença maldita, serão o fim desta guerra em que vou erguer a bandeira branca.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Dia 8 - TEC 6

Está a ser muito estranho descrever a evolução desta TEC. Os dias, no que toca a este assunto, são recheados de uma total neutralidade. Hoje não foi exceção. Começo até a sentir-me constrangida de vir cá dar "novidades". Estou mal habituada pelas experiências anteriores. Parece que estou sempre a bater na mesma tecla mas a maior surpresa até agora desta TEC é a sensação de que não fiz nada há uma semana. Estive, contudo, completamente consciente a ver o catéter a chegar ao endométrio no qual foi depositado o líquido onde se encontrava o embrião. A bióloga verificou como sempre, no final, se havia algo na cânula. Pergunto-me se aquelas pontadas fortíssimas que sentira nas transferências anteriores eram fruto de excesso de Estrofem. Até nos negativos era invadida por essas dores.

A contagem decrescente vai começar. O tempo está a andar a passo de caracol mas uma semana já lá vai.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Dia 7 - TEC 6

Novo dia, nada novo. Vou-me entupindo de medicação, apenas. Se a magia aconteceu começa a ser altura da hormona beta-hCG invadir o corpito. Nas duas últimas vezes comecei a ter perdas no dia 9 e resultado positivo. Devia ser o famoso sangramento de nidação.

Daqui a uma semana, por esta hora, já estarão dadas as novidades relativamente ao veredito da primeira TEC desta FIV. Sei que não devo comparar as minhas experiências anteriores, porque este universo infértil não tem nada de uniforme. Somos movidas, contudo, por aquela busca de conforto, por algo familiar, pelo refugiar num mecanismo de defesa que não faz rigorosamente nada, porque sofre-se sempre. Se calhar era muito mais fácil se fosse como aqueles testes académicos feitos a computador em que, quando acaba o tempo definido para a sua realização, sabe-se automaticamente se se está aprovado ou reprovado. Fazia-se a TEC e o resultado saía na hora. A realidade não é assim. Aquelas duas pequenas personagens que gostam de pairar, junto a cada ombro, a sussurrar aos nossos ouvidos, vão minando o cérebro ora com frases motivadoras, ora com escárnio, toldando a clarividência. O meu marido não é nada assim e às vezes isso enerva-me. Ele é que age bem, não eu.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Dia 6 - TEC 6

Se em outras ocasiões começava a ter pontadas na barriga, com positivos ou não, desta vez não sinto rigorosamente nada. Isto leva-me a perspetivar um grande negativo. Outra hipótese é os dois comprimidos de Estrofem, em vez de três, estarem a ditar esta diferença relativamente a todas as outras TEC. Mesmo que não resulte pretendo continuar a tentar um embrião de cada vez.

Quero manter-me otimista mas começa a ser difícil. Antevejo que a mudança que queria fazer a uma área da minha vida, que tenho vindo a prejudicar, não vai acontecer para que consiga manter-me disponível para novas transferências. Tenho de pensar que em mais ou menos um ano este assunto da infertilidade fica arrumado definitivamente e depois sim, poderei dedicar-me a outros projetos.

terça-feira, 26 de junho de 2018

Dia 5 - TEC 6

Os efeitos da medicação ainda não se fazem sentir. Não tarda muito, o meu estado insuflado, ao nível da poitrine, será ainda mais gigantesco do que aquilo que normalmente é, fruto do Progeffik. No que diz respeito à minha amiga gastrite, que me acompanha sempre nas TEC, desta vez ainda não deu sinais. Associo essa alteração à redução dos comprimidos de Estrofem ou, quem sabe, estou mais calma.

Lembrei-me há pouco que na folha onde as médicas registam a informação da transferência, ao contrário das outras 5 vezes em que indicavam a SOP como causa desta coisa do demo, agora assinalam infertilidade inexplicada. De facto, face ao que aconteceu nos últimos 2 anos, estou realmente naquele limbo da estranheza, do desconhecido. É um género de purgatório da infertilidade em que poderei ficar eternamente.

Veio-me agora também à mente que há exatamente 8 meses, quando nos casámos, estava um dia de outono maravilhoso que mais parecia verão. Hoje estiveram 20°C e um vento fresco que não abonam a favor da suposta época em que nos encontramos.

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Dia 4 - TEC 6

Mais 24 horas passaram. Não me ocorrem ainda pensamentos derrotistas, mas também não perco muito tempo a refletir sobre o que poderá estar a acontecer cá dentro.

Faltam 10 dias para saber o que me reserva o futuro ou não, como é costume. Sei que, se engravidar, as fatídicas 6 semanas vão coincidir exatamente com a altura em que estarei numa ilha no Atlântico. É, tradicionalmente uma época traumática para mim em que também se realiza a ecografia na qual se tem vislumbrado o nada. Bem, o melhor é afastar-me de ideias malucas e viver minuto a minuto.

Estou a tentar definir um pouco a minha vida quando terminar o verão, tudo depende desta TEC. It sucks!

domingo, 24 de junho de 2018

Dia 3 - TEC 6

Hoje é dia de aniversário do paizinho da minha filhota (enteada), da minha menina peluda longa de comprimento e de bigodaça e dos 28 mini-nós que fecundaram. Apesar da data, ele não se chama João.

Se não tivesse de me lembrar dos horários de medicação e de fazer alguns ajustes alimentares, passaria despercebido que fiz uma transferência.

Apesar de ontem não ter cometido qualquer excesso alimentar, de há uns dois anos para cá noto que o meu estômago não tem a mesma tolerância de antes. Quando algo foge um pouco à regra no tipo de alimento ingerido, no dia seguinte sinto-me nauseada. A esta hora permaneço nesse estado, contudo tenho a esperança de amanhã já estar normal. Sardinha assada à noite começa a tornar-se pouco recomendável.

Segunda é dia de regresso ao trabalho. Foi bom a TEC ter sido numa sexta para desanuviar a cabeça. Se tudo continuar sobre rodas, os próximos dias serão cruciais. Vendo bem as coisas cada fração de segundo é crucial. Da ventura ao descalabro não é preciso mais que um momento para que algo significativo aconteça. Para não estar permanentemente a pensar nisso o melhor é arranjar formas de manter a mente afastada, o que é difícil quando se tem de fazer medicação a cada 8 horas.

Dia 2 - TEC 6

Foi noite de S. João aqui no norte. O meu marido proibiu-me de realizar qualquer atividade. Ao menos pude tratar da saúde das sardinhas que tão bem me souberam. Coube-me a tarefa de aprovar a quantidade de pimento assado que ele podia comer para que a noite corresse bem. Num balão depositei os pensamentos nas minhas pequenas luzinhas que cedo se extinguiram. Noutro foquei-me no mini-nós que poderá ainda estar a lutar no duro ambiente que tem de enfrentar. Foi um dia feliz, num ambiente caloroso.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

TEC 6

Eu e o meu pequeno estamos recolhidos em casa. A bexiga estava vazia, apesar de ter bebido quase 1 litro de água, mas viu-se bem o endométrio e o catéter. Fomos depois almoçar ao shopping aqui perto de casa e demos uma voltinha muito calma.


The chosen one
é topo de gama, não perdeu uma única célula. Perguntei se era resultante da FIV ou ICSI e a bióloga disse que era da FIV. Preferiu assim por não ter sofrido qualquer manipulação. Acredita que um dia vai aparecer o certo.

Fui esperançosa, na sala havia um rádio ligado e foi a primeira vez que fiz uma transferência com direito a música. Transmitiu-me paz e a ideia que pode ser que alguma vez corra bem. Quem fez o procedimento foi a Diretora por quem tenho uma grande estima. Em jeito de brincadeira meteu-se comigo a dizer que eu deveria ter bebido cerveja, pois assim a bexiga enchia instantaneamente. Ela estava mesmo bem disposta e comentava com as estagiárias que o meu cadastro lá já é grande. Antes de vir embora, a técnica administrativa aconselhou-me a cheirar os dois manjericos que estão na receção para dar sorte e cumpri à risca para que o mini-nós fique completamente imbuído das energias positivas que toda a gente me transmitiu hoje.

5 de julho será o dia da verdade desta TEC. Vou manter-me fiel ao conhecimento da realidade apenas nessa data. Quem espera há quase 7 anos por um dia mágico aguenta bem pelo resultado do beta.

terça-feira, 19 de junho de 2018

TEC 6 agendada

Foi dia de ecografia e confirmou-se novamente que o meu endométrio responde bem ao Estrofem. Para variar estava com uns esbeltos 9,2 mm. Na próxima sexta vou então receber o meu embrião proveniente da magia biológica mais recente, com ADN mais maduro e experiente. Há um misto de expectativa e pessimismo, sentimentos antagónicos característicos deste processo. É a sexta vez que passo por isto, se houver descongelamento favorável. Será o décimo primeiro inquilino que vai passar por cá. Espero que não lhe dê ordem de despejo fora do tempo.

Uma das médicas estagiárias estava a procurar no meio de toda a papelada que recheia o meu processo o consentimento desta TEC, para confirmar se já estava assinado e o número de embriões a transferir. Eu disse que desta vez a aposta era apenas num e a Diretora comentou "fazem bem". Ao contrário das outras vezes em que, a partir desta fase, passava a tomar 3 comprimidos diários de Estrofem, desta vez mantenho dois, porque o endométrio cresce bem. O Progeffik foi introduzido esta tarde, com periodicidade a cada 8 horas.

Dizem que à terceira é de vez. Quem sabe não é ao dobro da terceira?

Sexta à tarde ficarei de papo para o ar e sábado é noite de S. João. Vou estar sossegadinha a degustar sardine on carvon, sem loucuras (é o meu estado normal) e domingo é aniversário do pai da criança. Este dia será igualmente zen, até porque não sei como lhe vai cair o jantar da noite anterior. Os pimentos e azeitonas são um problema quando ele se lembra que gosta muito. Os meus avisos constantes caem muitas vezes em saco roto.

Estou em falta com as minhas estimadas leitoras e companheiras de luta. A partir de quinta estarei mais disponível para passar um tempinho por cá.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

Ao ataque!

Não menstruei após o Decapeptyl, como é costume. Fiz ecografia esta manhã, o endométrio estava linear, prontinho a receber o Estrofem. Recomecei os dois comprimidos diários, volto ao Cartia e a dúvida das médicas era em relação ao Lepicortinolo. Há casos em que traz vantagens, noutros tem um efeito contrário ao pretendido. Elas receiam que eu seja desses casos. Quando disse que foi na TEC do corticoide que se viu um saquinho sem qualquer dúvida, a médica decidiu arriscar novamente no Lepicortinolo. Falei outra vez no Lovenox e, para já, não acham que possa trazer benefícios. Na próxima terça-feira volto a fazer ecografia.

Mais um ano letivo finda e agora é altura de tratar da preparação de alunos para o exame nacional. O horário de trabalho está organizado de outra forma e estou fisicamente cansada. Ando muito absorvida nesta missão mas neles acresce o sentimento de responsabilidade e o medo de bloquearem em algo tão determinante na definição das suas escolhas. Daqui a uma semana será o famigerado exame de 11° ano. A partir daí estarei mais disponível para passar cá mais vezes e arrebitar um pouco a atividade escrita.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Em modo pré-TEC 6

Ovários normalizados, é chegada a hora de preparar o ciclo da TEC 6 ou TEC 1.2. Vai ficar a designação TEC 6 para facilitar a leitura. A minha nádega está a queixar-se do Decapeptyl, aquele que tem efeito de redundância nos meus ovários naturalmente bloqueados. Os próximos dias serão passados em diferentes estados desagradáveis. Assumo com todas as letras: NÃO GOSTO DO DECAPEPTYL 3,75! Tenho direito a manifestar-me.

Face ao meu passado com o dito injetável quis saber o plano B se, à semelhança das duas vezes em que fui submetida a este protocolo, não menstruar. O plano A, partindo do pressuposto que a hemorragia de privação surge, consiste em iniciar dois comprimidos diários de Estrofem e ao nono dia do ciclo fazer ecografia. Se num prazo de 10 a 15 dias não houver alerta vermelho, entrarei em contacto com o hospital e agendar-se-á ecografia. Supondo que os ovários estejam devidamente bloqueados e o endométrio fino, iniciarei o Estrofem. Nada foi adiantado em relação à segunda parte do protocolo, que é a que me preocupa mais.

O consentimento para o descongelamento de 1 embrião está assinado. Prevejo que a TEC vá acontecer perto do S. João. Vai haver tripla influência do S. João nesta transferência: a época, o nome do hospital e o pai da criança que faz anos no dia do Santo que tem um cordeiro no colo. A fórmula mágica vai estar nesse triângulo, tenho dito!

A realidade é que o meu nível de confiança está neutro. Elas mandam (as médicas), eu cumpro.

Há mais de duas semanas que tenho enxaquecas diariamente a chatear-me. Não sei se é do efeito primavera que me altera o equilíbrio físico, deste tempo estúpido que não estabiliza ou a visão. Segunda-feira vou ao oftalmologista ver se a idade anda a deixar marcas nos olhinhos.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Nervoso miudinho

Na noite da passada sexta-feira veio a senhora M. Sem piedade, abundante e alguma dor à mistura. Comuniquei o evento esta manhã, como fora combinado, e a ecografia foi agendada para dia 30, às 10h, 21° dia do ciclo. Quando me foi dito que o meu marido devia ir, fiquei surpresa. Ora, se os ovários estiverem restabelecidos, iremos assinar o consentimento para fazer TEC. Não estava à espera que fosse já! Fui invadida por um medo e pensei logo se podia interferir com as férias que tenho marcadas desde o início do ano. À partida não. Mesmo que engravide, as 6 semanas críticas onde tudo corre mal terão já passado. Não poderei dizer o mesmo das 8 semanas que também causaram problemas na segunda gravidez. O segundo pensamento foi dedicado à medicação. Embora só me vá ausentar 4 dias, numa primeira fase, se usar Lovenox vou ter de pedir uma declaração para mostrar no aeroporto e andar com seringas, ampolas, além de não esquecer o Progeffik a cada 8 horas e toda a parafernália de outras coisas que vou tomar.
Também importante: pensos, dos gigantes. Seria tão bom não ter de pensar nisso mas é inevitável.

Estarei isenta desse tipo de preocupações se o resultado for negativo ou nenhum embrião tiver descongelado bem, mas triste por ter perdido uma oportunidade de mudar o destino.

domingo, 6 de maio de 2018

Balanço gelado

Hoje, dia da Mãe, recebi notícias.

O balanço final é de 4 mini-nós criopreservados ao terceiro dia, a iniciar a compactação. Segundo a bióloga são mesmo muito bons. Os restantes permaneceram em cultura até D5 mas não apresentaram qualidade suficiente para serem congelados. Os 4 resistentes destacaram-se, sem qualquer dúvida, em relação aos restantes 11. Perguntei o motivo de ser realizada microinjeção em alguns. Como viram o meu historial de insucesso, acharam que a ICSI poderia trazer benefícios na qualidade dos embriões, dado que na última vez resultaram todos de FIV. No quarteto há 2 mini-nós fruto da FIV (um classe A e outro classe B) e os outros 2 resultaram da ICSI e são classe A. Verificaram também que em relação ao resultado do espermograma que o meu marido realizou (há 5 anos), os valores atuais encontram-se no limite do necessário para que haja taxa de sucesso. A bióloga é da opinião que ainda não terá condicionado a fecundação.

Estou entusiasmada e preocupada ao mesmo tempo. Apesar da minha determinação em transferir um embrião de cada vez, penso sempre no que poderá acontecer ao proceder à descongelação. O fim está mesmo próximo e tenho de me mentalizar que pode ocorrer a situação de não haver sequer uma TEC daqui a uns 3 meses. No máximo, em aproximadamente um ano, termina este tormento. Doravante cada etapa pode ser a última oportunidade. É assustador perceber isso, por outro lado aproximo-me do ponto em que digo "acabou a tortura".

Aproveito muitas vezes o sossego da noite para pensar, pensar, pensar e hoje não foi exceção. Refleti sobre como será a dinâmica cá em casa, daqui a um ano. Imagino que poderão ser alteradas algumas coisas na casa que comprámos a pensar na possibilidade da nossa família alargar. À medida que os filmes vão passando há sempre uma vozinha irritante a dizer que sou uma parva, porque não vai ser preciso fazer nada. Que esta FIV/ICSI é só para me dar mais uma lição que eu não tenho direito a ser Mãe. Que andei a perder anos de sanidade mental e a transfigurar-me apenas por uma ideia. Que pensarei sempre em como seriam os filhos que perdi e questionarei se teria capacidade para os ajudar a serem íntegros e felizes. Que houve magia 28 vezes no ambiente estéril de um laboratório só para me magoar, porque não me era destinada a maternidade. Como odeio essa vozinha!

Perdoem-me mas não consigo pronunciar-me sobre a efeméride. É melindroso fazê-lo sem magoar alguém. Um conselho para quem está no mesmo barco que eu e queira que as horas passem a voar para que chegue o dia de amanhã: desliguem-se das redes sociais e dos meios de comunicação, em geral. Esqueçam este blogue por hoje.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Novidades? Há no Continente...

O título define o meu grau de conhecimento acerca dos mini-nós que ousaram dar alguma esperança. Aquilo que contei no post anterior é a informação mais recente que tenho. Não, ninguém me disse absolutamente mais nada. O telemóvel não tocou ontem, nem hoje. Liguei para o hospital mas o resultado foi o de grande parte das vezes, ou seja, não consegui que a chamada fosse atendida. Estou a estranhar este silêncio. É costume haver informação acerca dos embriões congelados ao terceiro dia e se ficam ainda alguns em cultura, dizem ao 6° ou 7° dia o resultado final. Será que decidiram deixar os embriões desenvolver até aos 5 dias? Não é habitual fazerem isso lá. Sei que são muitos mas estou em completa ignorância neste momento e possivelmente vou continuar assim até segunda.

Quanto ao meu corpito, acho que a recuperação está a ser mais rápida. Acredito que no início da próxima semana já esteja bem. O inchaço na barriga vai demorar mais tempo mas o facto de o intestino estar a trabalhar deixa-me deveras feliz. Pode ter sido o Dostinex que me causou obstipação durante quase duas semanas. Desta vez não o estou a tomar.

Fazendo uma comparação entre as duas FIV, a primeira foi mais incomodativa no pré-punção. A partir da punção esta foi pior nos dois primeiros dias.

terça-feira, 1 de maio de 2018

Fecundação

Soube há pouco novidades acerca das pequeninas vidas que se geraram desde o inferno que passei ontem e que ainda está ativo.

Dos 28 oócitos maduros recolhidos, 5 foram microinjetados e os restantes deixados autonomamente a trabalhar juntamente com os espermatozóides do maridão. O balanço, para já, é de 15 mini-nós a lutarem para se manter firmes e saudáveis até ao 3° dia e serem posteriormente colocados no fresco do azoto. Estou feliz por haver embriões, no entanto a quantidade perdeu significado depois de tudo o que aconteceu.

Esta punção bateu a anterior no que diz respeito a sofrimento. O dia de ontem foi muito difícil. Além de toda a dor que invadiu o meu corpo desde as costelas à pélvis, estou pisada no maxilar, dos dois lados, nas extremidades próximas dos lóbulos das orelhas. Parece que fui esmurrada de cada lado. A cor da pele está normal, não há inchaço, mas mal toco lá, que dores! Durante parte da noite tive de manter o tórax elevado com uma almofada adicional, porque tinha dificuldade a respirar. Era difícil permanecer na vertical. Por três vezes tive vontade de espirrar. Felizmente as tentativas falharam, pois o ato de encher o peito de ar para expulsar os espirros deram para antever a violência que se ia gerar nas entranhas. Hoje estou ligeiramente melhor mas longe de me sentir em condições para fazer uma vida normal. Continuo de repouso na cama, quietinha, é onde me sinto melhor.

É dia de aniversário para mim e o meu marido. Só há pouco é que me lembrei disso. Há 9 anos não imaginava que fosse estar assim neste dia. Estou a sofrer, mais uma vez, para lá do limite do razoável, a pensar que muito provavelmente este sacrifício não vai ser compensado. Ando a penar há anos por uma ideia que se calhar não passará disso. Tratar a infertilidade para mim dói a todos os níveis.

segunda-feira, 30 de abril de 2018

FIV 2 - Punção

Que tortura esta! Não sou fã deste ato médico. Tenho a perceção que enquanto ainda dormia as dores tomavam conta de mim. Acordar para a realidade foi mau, muito mau. Como dói! Mais uma vez foram precisas duas doses de paracetamol para melhorar. Das costelas para cima e das pernas para baixo estou porreira. O que resta entre essas duas áreas, ui, ai, quero a minha mãe! Ovários dum raio, mal me consigo manter na vertical.

Esta máquina de pipocas que aqui vos escreve está assim, porque 28 folículos foram aspirados. Sim, 28! Não sei o balanço das outras 4 punções feitas lá hoje, mas as biólogas são capazes de ter algum trabalho nos próximos dias.

Neste momento em que me encontro nas palhas deitada, a minha barriga parece um peixe-balão em volume e rigidez. Devia ter folículos até às costelas, pois mesmo aí tenho dor.

Desta vez não me receitaram Dostinex. Dizem que como fiz Decapeptyl deve ser suficiente. Vou terminar a embalagem de Cartia e intercalar paracetamol com ibuprofeno.

Irei aguardar a menstruação e quando vier comunico para que se possa agendar a ecografia de reavaliação dos ovários. Amanhã vou ter notícias da fecundação. Felizmente é feriado, com o meu interior todo remexido seria muito difícil trabalhar nestas circunstâncias.

Agora vou descansar um pouco desta violência.

domingo, 29 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 11

Estou satisfeita por chegar a esta fase. Apesar de barriguda e dorida, a passar novamente por este mau estar, a ausência de trabalho dos ovários durante a minha vida reprodutiva é compensada por colheitas anormais de folículos. Seguem-se dias, meses de incertezas a somar a todo o tempo que entretanto tratou de me envelhecer o corpo e reduzir a esperança. Não sou a mesma que era em 2011. Tenho dificuldade em explicar o que mudou em mim, porém estou diferente, sinto-o. Não imaginava ainda estar nesta fase da vida a começar outro tratamento. Desilude-me... O tempo parou e passou a voar. Este antagonismo é estranho mas traduz a confusão que está instalada na mente. A infertilidade é uma treta, aniquila o equilíbrio.

Tenho de agradecer a cada uma por todo o apoio. Irei tratar logo que me seja possível. Paralelamente a isto estou com uns problemas técnicos cá em casa que espero não dêem muita preocupação e trabalho de esfregona. Os próximos dias vão ser penosos e inundações não são compatíveis com um corpo debilitado.

FIV 2 - Dia 10

Decapeptyl injetado, a minha missão está concluída. Sinto alívio por não ter de passar mais por isto e, claro, receio que seja mais um esforço em vão.

Fisicamente não estou tão debilitada nesta fase como da outra vez, contudo, a dor está presente. O volume abdominal também aumentou, deitar-me para o lado direito incomoda bastante, andar de carro em piso irregular não causa uma sensação muito boa. Mesmo assim acho que não está tão mau como na estimulação de 2016.

Esta máquina de crescimento de folículos em tempo recorde vai entrar na reforma. A sua carreira foi peculiar e memorável, pelo menos para mim. Espero que nos próximos anos pense cada vez menos nos ovários e fique em paz com eles.

Começa a minha despedida a esta dinâmica de procura pela fertilidade. Os próximos dias trarão novamente preocupação mas, no que diz respeito a estimulações, coloquei um ponto final.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 9

Acordei sem dores ou peso no fundo da barriga e dirigi-me ao hospital, mentalizada que me iam dizer que o ciclo seria cancelado.

Foi a Diretora quem fez a inspeção às entranhas. Logo no início da ecografia, começou a torcer o nariz. Foi analisar o outro ovário e torceu o nariz novamente. Convencida de que não tinha acontecido nada desde terça, perguntei "Não há nada, pois não?". Resposta dela : "São milhentos!" Na minha completa inocência supus que ainda estivessem pequenos. Iniciou a contagem. A dada altura, parou de fazer a ecografia. Estava a preparar-me para levantar quando a médica disse que ainda não tinha acabado. Como já não cabiam mais dados no ecrã, tinha de apontar na folha a informação do ovário direito. Depois de escrever tudo, fez a contagem no esquerdo. O endométrio estava com 8,4 mm mas como não vou fazer transferência neste ciclo, de nada importa. Quanto aos outros números:

Ovário esquerdo - 17, 17, 16, 16, 16, 15, 14, 14, 14, 13, 12, 10
Ovário direito - 18, 18, 17, 17, 16, 15, 15, 15, 15, 14, 14, 13

Tanto num ovário, como no outro, ainda há vários folículos pequeninos. Fiz colheita de sangue para avaliar o estradiol e a progesterona. Na outra estimulação não foi pedida esta análise.

Hoje faço a última dose de Puregon e Orgalutran, amanhã encerro as injeções com duas ampolas de Decapeptyl, às 22h30.

Segunda-feira, às 8 horas regresso ao hospital para fazer a punção. Somos pelo menos 5 candidatas a dormir um soninho, duas vão ter de ficar em macas, porque só há 3 camas. A medicação oral mantém-se e na manhã da punção só posso tomar o Eutirox.

Sentia-me bem até ao final da manhã. Os mega-ovários estão a fazer-se notar a uma velocidade galopante. Dá para perceber muito bem que a panela de fazer pipocas está em acesa atividade.

A técnica administrativa espreitou a minha folha de contagens e sorriu, porque comigo o exagero é uma constante. Ela disse que ia ficar conhecida como a Menina dos Congeladinhos. A esse respeito ainda não posso lançar foguetes, pois não se sabe como vai correr a fecundação. Trabalhei com azoto líquido algumas vezes, enquanto estudava na universidade, nunca imaginei que se tornasse tão preponderante na minha vida.

Na terça-feira passada não estava muito animada, hoje só tenho vontade de rir com este boom folicular. Que dois anormais! Felizmente é feriado no dia 1, assim poderei estar tranquila em casa e só irei trabalhar na quarta à tarde. Da outra vez voltei ao ativo no dia após a punção e qualquer movimento que cada fazia parecia rebentar-me por dentro. Só ao fim de uma semana é que deixei de sentir dor.

Uma etapa está cumprida, vamos ver como corre o resto.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 8

Não tenho expectativas em relação a esta estimulação. Quando muito, se houver qualquer coisa a crescer por cá, algo me diz que não haverá embriões para transferir. Tenho muita dificuldade em acreditar que algo favorável vá acontecer. Melhor que especular, é aguardar pela ecografia de amanhã para saber alguma coisa.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 7

Se me pedissem para definir este período por cores, diria roxo e azul. Foi assim que acordei ontem, na zona da barriga. Tirando isso parece que mais nada está a acontecer. Não quero ser pessimista mas acho que não há atividade cá dentro. Esse era um cenário que não tinha equacionado. Até à próxima ecografia ainda tenho mais um dia de injeções que poderá ser determinante para definir o rumo da FIV.

Os tratamentos são sempre caixinhas de surpresas. Por cá têm sido daquelas pouco agradáveis. Por muito que se queira ser racional é muito difícil ser coerente quando há imprevistos.

Há dias em que ser adulto é aborrecido por causa da responsabilidade de se ter de tomar decisões importantes numa fração de segundos. Espero que sexta não seja um desses dias.

terça-feira, 24 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 6

Quando ontem referi que os dois inquilinos que por aqui andam não são de confiança, eu tinha razão. Em cada ovário há 10 folículos com menos de 10 mm. Digamos que a dormência continua por cá. Por causa disso, hoje não faço Orgalutran, retomo amanhã e mantenho 150 UI de Puregon. Sexta volto a fazer ecografia.

O resultado de hoje causa-me alguma preocupação, confesso.

Há novidades em relação à aspiração. Os tecidos foram enviados para Genética e o cariótipo do embrião era normal. No meu processo estava mencionado 46 XX, o que significa que era uma menina. Nada mais se sabe além disso. Esta era a resposta que eu queria obter para ter a certeza da transferência de apenas um embrião, se houver fecundação. Ver aquela nota escrita que transforma uma ideia assexuada de um aglomerado de células em algo concreto, deixou-me abatida. Tinha dentro de mim uma menina, a minha filha, que o meu próprio corpo arrancou. Ela era aquela manchinha preta que vi apenas uma vez, num dia em que fui às urgências, e nem o pai a chegou a ver. Essa é a melhor memória visual que conservo dela, as outras imagens do que sucedeu depois desse dia também as guardo na mente, com uma mágoa desmedida.

FIV 2 - Dia 5

Às 8 horas estarei a picar o ponto no hospital para fazer o primeiro balanço destes 5 dias de injeções. A forma como reagem os ovários é sempre motivo de preocupação para mim, porque estes dois não são de fiar...

O Orgalutran é tramado. Acaba-se de tirar a agulha, começa logo a comichão misturada com dor e o aparecimento de uma mancha vermelha. São minutos em que tenho de me controlar para não friccionar a zona. Neste momento a cor da pele voltou ao normal mas continua aqui uma pequena protuberância.

Pareceu-me voltar a sentir a presença do ovário direito. Daqui a umas horas o mistério estará desvendado.

Ainda a propósito do fim de semana passado, há algo que quero partilhar. Quando se reencontra amigos e estes perguntam "Então, que contas?" ou "Novidades?", chega uma altura em que se torna difícil responder. Por vezes, enquanto aguardo que o sono chegue, ponho-me a pensar na vida. Tenho refletido nessas duas questões que me têm sido colocadas com alguma frequência. Fiz um balanço dos episódios mais relevantes destes 6 anos e meio e não há muito a destacar, porque a vida tem andado em stand by. Esse exercício de ter alguns segundos para responder se tenho novidades, faz-me lembrar a altura em que na escola os professores da área das línguas nos pediam para fazermos composições acerca das nossas férias. Os meus pais não tinham condição económica que nos permitisse gozar férias. Se havia período que eu detestava era mesmo esse, porque estava sempre em casa, num sítio onde o tempo morria. Ter de fazer uma composição acerca das férias era torturar-me, então punha a imaginação a trabalhar e inventava. Neste momento, se tiver de falar de alguma coisa que não seja a infertilidade, não sobra praticamente nada. É tão difícil responder... Essas perguntas curtas e inofensivas têm um peso incomensurável porque mostram, mais uma vez, como estou refém desta doença. Tenho mesmo de me libertar.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 4

O dia foi passado em casa no ócio, por isso não me apercebi de dinamismo cá dentro. Tenho um pouco de erupção cutânea na cara e o intestino está mais ativo que o habitual. Daqui a uns dias vou estar aqui a queixar-me da inatividade neste último campo. A cabeça andou um pouco fora do assunto da estimulação, por enquanto é quase como se nada se estivesse a passar. O horário da injeção também não me provoca o efeito stress de Cinderela quando se aproxima o fim do feitiço, porque normalmente costumo estar em casa às 21 horas.

Amanhã passarei a fazer também o Orgalutran. Para quem vai iniciar esta rotina de injeções pela primeira vez, aconselho que façam uma tabela. Nas colunas identifico os injetáveis. Se for daqueles fármacos do género do Puregon ou Menopur, em que ao longo da estimulação a quantidade a injetar pode variar, subdivido em três colunas. Numa escrevo "E", noutra "D" e na terceira "UI". No caso do Orgalutran, como as seringas vêm pré-preparadas, só indico os lados a injetar "E" e "D". Cada linha corresponde à data em que a injeção é administrada e assinalo com X o lado esquerdo ou direito e na coluna "UI" escrevo o número de unidades introduzidas naquele dia. Tem de se arranjar alguns mecanismos para simplificar os processos, porque chega uma altura em que as mudanças nos medicamentos ocorrem muito rapidamente. Quando é a altura das transferências, em que os comprimidos podem ser muitos (na última fazia 10 diariamente), os primeiros dias são complicados. Poderá ser necessário programar o despertador do telemóvel para vários períodos mas a partir do segundo ou terceiro dia entra-se no ritmo. Outro cuidado que tenho é de conjugar o horário das tomas com o trabalho. O Progeffik, por exemplo, tinha de ser aplicado a cada 8 horas, por isso o mais favorável para mim era fazê-lo da seguinte forma: 1h, 9h e 17h. São apenas dicas mas acho que facilita um bocadinho.

domingo, 22 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 3

Se pressionar as zonas onde administrei as injeções deteto alguma sensibilidade. Há momentos em que tenho a sensação que há umas pontadinhas no ovário direito. Terça vou saber quem anda a trabalhar mais. Estou tranquila e o momento da injeção não tem aquela solenidade que a minha mente atribuía noutras ocasiões. Depois de terminar fico pensativa durante alguns segundos, porque o ato é tão mecânico que até julgo que me esqueci de alguma coisa. O sistema do Puregon é muito simples. Numa das estimulações em que usei o Menopur havia um ritual próprio da preparação, outro para a aspiração do líquido quando era a altura de administrar, o fármaco exigia mais atenção. Do Orgalutran, que vou fazer a partir de segunda, recordo-me que nas primeiras vezes tinha dificuldade em eliminar a bolha de ar sem expelir líquido, depois arranjei uma técnica rápida e infalível. A agulha desse é mais espessa e o produto provoca uma reação alérgica que, com o tempo, vai sendo cada vez mais ligeira.

A minha relação com as agulhas foi sempre pacífica. Desde pequenina faço colheita de sangue com regularidade e nunca me fez confusão ficar a ver a realização do processo. A altura mais complicada que tive com esses instrumentos perfurantes foi na segunda gravidez em que, dia sim, dia não, tinha de fazer beta e as enfermeiras iam sempre ao mesmo braço até eu começar a pedir para alternar. Logo que terminava a colheita a zona começava a inchar, ficar negra e doía. Com o avançar da idade, a minha pele está cada vez mais sensível. Esta semana, quando fiz análise à TSH e T4, o penso esteve no braço no máximo uma hora e ainda tenho a marca da reação à cola. Com perto de 30 anos comecei a manifestar alergia ao sol. Vivo numa terra de praia e não posso fazer mais que caminhadas na marginal. O chamado "trabalhar para o bronze" é incompatível com o meu bem estar. Essa atividade faz-me passar vários dias sem dormir, a desesperar com urticária e o corpo malhado com umas manchas vermelhas absurdamente quentes. De há uns anos para cá, desisti de procurar/tentar fórmulas milagrosas e simplesmente não faço praia. Um pequeno arranhão provoca um edema que perdura durante horas, com um relevo considerável. Penso já ter lido que o hipotiroidismo está relacionado com isto. Há 21 anos que faço tratamento para este problema. Ao ver o meu corpo reagir assim estou cada vez mais convicta que os embriões podem ser encarados como algo extremamente agressivo, daí depositar a única esperança que me resta na transferência de apenas um.

Esta tarde tive oportunidade de estar com vários dos meus sobrinhos do coração, quase todos nascidos depois de eu ter entrado nesta aventura. É bom vê-los a crescer, interagir, sentirem-se em família. Ao observar de longe, pensei que aquilo que realmente importa é que eles sejam felizes e se tornem pessoas de bem. No meio daquelas crianças todas não há filhos meus e se continuar a ser assim, só peço que tenha saúde para andar ainda algum tempo por cá a orgulhar-me das pessoinhas lindas em que se estão a tornar, tão puros, alegres, íntegros. Não somos todos iguais, a vida não traça as mesmas oportunidades aos indivíduos. Por mais que quisesse convencer-me do contrário há uns anos, a minha vida não vai passar pela maternidade. Estou em lágrimas a escrever isto, porque nunca quis que filhos meus morressem para me provar isso. Foi uma crueldade desnecessária e se calhar ainda vai tornar a acontecer.

sábado, 21 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 2

Depois de passar os olhos pelo folheto informativo do Puregon percebi o motivo da prescrição do Cartia. Uma das possíveis complicações da Síndrome de Hiperestimulação Ovárica é a formação de coágulos que entram na corrente sanguínea. Obrigada, queridas médicas, estou-vos inteiramente grata!

A pica de ontem já me deixou ligeiramente marcada e hoje, milagrosamente não sangrei. Ainda é cedo para sentir alguma coisa diferente, daqui a uns dias não devo caber nas calças. Os vestidos vão ser os meus maiores aliados.

Comparando o meu corpo com a altura em que fiz a primeira FIV, estou num estado que apelido de "mais" em diversos aspetos: larga, pesada, cabelo branco, hirsutismo. Olho para mim e penso "ao ponto que chegaste!" Tenho uma parte muito relevante de culpa. Sinto-me desmotivada, revoltada. Quando o peso da infertilidade sair de cima dos meus ombros, nem vou acreditar. Estou presa há tanto tempo nisto, que acho que vou ter dificuldade em "descobrir-me" novamente. Preciso de dar um enorme suspiro de alívio por me livrar deste fardo.

Pode soar a ingratidão exprimir-me desta forma, quando estou a usufruir de uma oportunidade de dar um pontapé à infertilidade. Mas revolta-me ter de passar por algo tão contranatura; revolta-me ler diariamente notícias de atrocidades cometidas por progenitores que não sabem honrar o seu papel de pais; revolta-me ter de sofrer física e psicologicamente para tentar fintar uma doença malvada, sem ter garantias de que o vá conseguir; revolta-me ter perdido três filhos, como se alguém estivesse a fazer troça de mim; revolta-me saber que o sofrimento não terminou. Se calhar tudo isto não passa de egoísmo. Para finalizar, revolta-me a ambivalência que a infertilidade causa.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

FIV 2 - Dia 1

The beginning! E que começo!

Hoje foi daquelas manhãs em que se chegava a um ponto em que já não havia posição possível para sentir conforto, mesmo não sendo o plástico das cadeiras desagradável de todo. Há partes do hospital a léguas (numa perspetiva negativa) das condições oferecidas pela zona de Medicina de Reprodução. A questão aqui é que saí às 15 horas quando a hora marcada para lá estar foi às 9h30. Olhei para os pulsos, tentada em fazer-lhes algo. Eram 11h50 quando passei para a sala de espera de ecografia. Às 13 horas chegou finalmente a minha vez de ir para a marquesa. Estava tão anestesiada da espera, que nem me apercebi do desconforto que ela proporciona às pernas. Já falei deste detalhe várias vezes. Tenho a certeza que quem passou largos minutos em escrutínio de catacumbas naquela marquesa, em concreto, sabe ao que me refiro. Quem me dera que fosse como a da sala das punções/transferências...

Começou a ecografia, passado um bocadinho disse a médica "Os seus ovários estão carregadinhos! Só num ovário estou a contar 21. É provável que hiperestimule. Sabe que com doses baixas os ovários podem não reagir, então a única hipótese é garantir que trabalhem, só que vão responder em excesso." Na folha de contagens estavam 21 potenciais candidatos de um lado e 26 do outro. A máquina de fazer pipocas vai voltar em força. Uau... Que entusiasmo estou a sentir só de me lembrar daquilo que passei. Tenho de me mentalizar que não me posso queixar, porque há muitas mulheres que gostavam de ter uma pequena fração daquilo que produzo, é a realidade. Mas dói e não é pouco. Acarreta também consequências chatas que demoram a normalizar. Além do mais pode não servir para nada. Com o cenário que se avizinha, por volta do início de agosto poderei fazer TEC.

Voltei em seguida para a sala de espera.

Algum tempo após a eco fomos chamados para a consulta e foi-nos entregue o plano de ataque para os próximos dias. Puregon 150 UI até segunda-feira, nesse mesmo dia acrescento Orgalutran. Por via oral é Acfol, Eutirox (esse é até partir para outra dimensão) e a novidade desta estimulação, o Cartia. Usei o Cartia em processos de transferência e agora também fará parte da estimulação. Não sei exatamente qual o seu contributo nesta fase, mas estou por tudo. Foram feitos pedidos de análises para atualização e voltei a bater na tecla da aspiração. A Diretora disse que ainda não havia nada e parecia que ia deixar o assunto morrer. Quando falei que estava a ponderar apresentar uma reclamação, porque me tinha sido garantido que o conteúdo foi para análise, lembraram-se que a amostra pode ter sido enviada para Genética em vez de Anatomia Patológica. Quando vai para este último departamento, os resultados são disponibilizados na base de dados, na Genética não é assim. Têm de entrar em contacto com eles. Como era hora de almoço ninguém iria atender, então ficou um lembrete no meu processo para ligarem para lá. Se na próxima terça souber que nada deu entrada, apresentarei reclamação. Perguntei se os embriões podiam ser congelados individualmente e expliquei que, uma vez que não sei o resultado da aspiração, vamos experimentar transferir apenas um embrião. Expliquei a minha desconfiança de o sistema imunitário rejeitar organismos estranhos e, quem sabe, transferindo apenas um embrião, estou a reduzir a hipótese de rejeição. A Drª S. disse que há situações de resposta imunitária em que os corticóides trazem vantagens, noutros casos até prejudicam e isso nunca se saberá. Questionei também se não se justificará usar o Lovenox. Apesar de não ter trombofilias não se opuseram, tendo em conta o elevado número de TEC que realizei sem resultados favoráveis. Relativamente à possibilidade de o embrião da última gravidez ter algum tipo de trissomia, caso haja confirmação, o hospital não oferece nenhum tipo de resposta na seleção de embriões, só fora. Foram dizendo que com 38 anos e todo o meu historial, as minhas hipóteses de sucesso são reduzidas.

Não saí abatida, porque não ouvi nada inesperado. Estou plenamente consciente de que será muito difícil alguma vez dar certo, é a realidade. As evidências dos próximos tempos serão a confirmação que esta luta não tem qualquer tipo de produtividade comigo.

Regressámos à sala de espera, depois fomos às enfermeiras.

Agora um pequeno momento de serviço público:

Há um shopping junto ao hospital e ao hotel Ibis, o Campus S. João. Tem uma farmácia com o mesmo nome do espaço e, mesmo sem sermos sócios da APF, temos 10% de desconto imediato nos injetáveis para estimulação. Foram 15€ a menos que paguei. Essa poupança já ajuda na aquisição da medicação que se toma em altura de transferências.

Estou a voltar à suposta "pontaria" em vasos com o Puregon. Sangro, mesmo fazendo prega e a agulha é finíssima. Não sei o motivo.

O dia foi cansativo, apesar da manhã ter sido uma verdadeira "seca", como dizem os miúdos.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

A poucas horas do início da FIV 2

A pílula cumpriu a sua função, hoje a hemorragia de privação chegou viva. Consegui contactar o hospital e amanhã, às 9h30, eu e o meu marido estaremos no piso 3 a aguardar o início da última temporada desta série. Deveremos fazer repetição das análises da praxe, vamos assinar papéis e ter formação em injetáveis com a enfermeira. Vou falar acerca da criopreservação dos possíveis embriões (agora um por palheta) e do meu interesse em, na próxima transferência, usar apenas um embrião. Se, devido à idade, até poderia até reunir condições de transferir mesmo 3 embriões, pela minha desconfiança de rejeição de células estranhas, vou jogar pelo seguro e experimentar desta forma. Nunca tentei apenas um! Se calhar vão achar disparatado mas já que o empirismo tem mandado, por que não fazê-lo, nem que seja só uma vez? Experimento e logo se vê. Três de uma vez não faria de certeza, mesmo que mo aconselhassem.

Os meus ovócitos estão mais velhos em relação à última FIV, devem estar a ficar senis, assim como eu. Estou a perder a paciência para continuar em permanentes experiências que só me têm feito sofrer, adiar projetos, abdicar de oportunidades e manter a vida em suspenso. O limite está muito bem definido. Quando terminarem todas as hipóteses que este tratamento me possa trazer, será de facto o fim. Esta clarividência no estabelecimento de um final está a deixar-me voltar a tomar um pouco as rédeas da minha vida, que era algo que não sentia há muito tempo. Sim, é verdade, a forma como abordo isto transparece que não estou nada convencida que seja nesta FIV que o assunto da infertilidade fica resolvido. Não consigo pensar de outra forma quando tantas vezes se lê ou ouve que basta um embrião e dez para mim não resultaram.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Nada no útero

Desloquei-me ao hospital para perceber o que se passava de errado. A técnica administrativa, ao ver-me, ficou toda contente a pensar que estava a menstruar novamente. Disse-lhe que havia algo anormal, então foi logo falar com as médicas. Chamaram-me imediatamente para fazer ecografia apesar da sala de espera estar a abarrotar. Tinha duas médicas a observar o ecrã para verificarem se ainda havia alguma coisa no útero. Ficaram mais tranquilas por estar limpo. Viram depois os ovários e esses, exibiram-se com a treta do costume.

Aparentemente a libertação de coágulos e perdas clarinhas de sangue que tenho há semanas dever-se-ão a um desequilíbrio hormonal. A cavidade uterina está vazia, não são visíveis coágulos. No sábado ainda saiu um com cerca de 5cm de comprimento por 1cm de largura e ontem outro de menores dimensões. Para tentar resolver este distúrbio e reunir condições para iniciar a próxima FIV, vou tomar uma embalagem de Denille (pílula). Ao terceiro dia de sangue vivo vou ao hospital, faço ecografia e começo as injeções.

Perguntei à Diretora se o relatório de anatomia patológica já estava pronto e ela que disse que não, o que não é normal, dado já terem passado mais de 3 meses. Ela acha que o conteúdo da aspiração não foi entregue ao laboratório. No dia em que fui ao bloco o médico garantiu a mim e ao meu marido aliás, disse para ficarmos tranquilos, que os tecidos iam para análise citogenética. Falei também à médica o que fora dito na urgência relativamente a problemas genéticos nos embriões. Recordo que quando me perguntaram se tínhamos feito análise aos cariótipos e eu referi estarem normais, o médico afirmou ser impossível termos embriões com anomalias genéticas. Ela respondeu, como eu já sabia, que podem haver anomalias apesar dos cariótipos estarem bem.

Estou saturada de perdas de sangue, de esperar, de nunca mais fazer algo diferente, apesar de ter consciência que daqui a um mês vou estar a meio do processo de estimulação e começar a sentir-me como uma panela de pipocas. Parece que o ano já vai a meio. Este arrastar de tempo é fruto da gravidez mal resolvida, da inércia do laboratório ou da minha cabeça que quer pôr fim às incertezas.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Questionário

Tenho vindo a refletir acerca da pertinência deste espacinho virtual. Há algumas ideias a saltitar na minha mente e lembrei-me que há uma ferramenta que poderá ajudar um pouco a clarificar o que fazer em intervenções futuras. Digamos que estou a tratar do plano B do blogue, porque não o quero deixar a ganhar pó quando terminar a luta.

Quando procuramos alguma informação na internet aterramos em páginas com as quais temos afinidade, outras estão completamente fora do nosso objeto de pesquisa. Este blogue pode ser útil para algumas pessoas, assim como completamente irrelevante para quem, por engano ou não, veio cá parar. Nem todos os que lêem conteúdos nas redes participam nas páginas em que tal é permitido, nem têm qualquer obrigação de o fazer. Por exemplo, é totalmente legítimo que visitem esta página e não digam nada nos comentários. Cada um é livre de escolher como quer relacionar-se com o blogue.

Penso muitas vezes que agora que estou a chegar à quarta década de vida, fiquei "tagarelas" no que diz respeito à escrita. Enquanto estudante, sintetizava todas as ideias em poucas palavras, de uma forma clara. Agora sinto necessidade de deixar as palavras fluírem. No trato com as pessoas continuo reservada, sempre fui mais ouvinte que conselheira.

Voltando ao assunto do questionário que, assim como no blogue só participará quem quer, o alcance que pretendo atingir com esse instrumento é simples. Eu, e acredito que a maior parte das pessoas que procura este tipo de partilha tão pessoal, procuramos conforto para uma parte da vida que nos é difícil. Queremos acabar com aquela questão persistente "porquê eu, porquê a nós?" Ansiamos por soluções, milagres que resolvam de uma vez por todas o nosso sofrimento. É certo que não é com a desgraça alheia que encontramos o sentido de tudo e o alívio que almejamos, mas a procura de afinidade com casos semelhantes ao nosso renova a esperança.

As contas Google têm uma série de aplicativos que merecem ser explorados. Os formulários são uma das ferramentas disponibilizadas. Em primeiro lugar tentei perceber em traços gerais como usar as funcionalidades disponibilizadas. Depois, de acordo com o seu potencial, fiz um auto brainstorm dos conteúdos que iria incluir. Verifiquei que há muitas variáveis a considerar não tanto do ponto de vista técnico da aplicação, mas da infinidade de assuntos passíveis de exploração. Findas as mais de 20 secções que coloquei no questionário, vejo que está redutor, muita coisa poderia ser ainda incluída. Será relevante o que lá não consta? Provavelmente sim. Como há tantos cenários hipotéticos e específicos que podem acontecer, procurei algo mais generalista que pudesse abranger pessoas em diferentes fases do processo. Consoante a interação que possa surgir, logo vejo se o questionário faz algum sentido. De uma coisa tenho a certeza, não perco nada em colocá-lo online.

Fiz vários ensaios para ver se todas as interligações estavam bem executadas e submeti uma versão preenchida com a minha perspetiva para ver como era feito o tratamento dos dados. Embora não esteja totalmente satisfeita com o resultado, vou arriscar.

No endereço que se segue encontra-se o dito cujo

https://goo.gl/forms/FSkwPcWzJV1ZjvzO2

Aceito sugestões, isto foi feito nuns minutos livres que tive.

Outro facto que me estou a aperceber é que este processo de escrita está a desabrochar-me.

terça-feira, 20 de março de 2018

Ajuda, precisa-se!

Como referi anteriormente, menstruei sem qualquer tipo de coadjuvante químico. Tão estranho como o fenómeno é o processo em si.

Passo a explicar.

O fluxo não foi muito abundante mas dava para concluir claramente que era menstruação. Seis ou sete dias depois era residual, levando-me a pensar que estaria a terminar. Julgo que no sábado à noite, sem que esperasse, o papel higiénico ficou todo vermelho, saíram dois ou três pequenos coágulos. Pensei que a menstruação fosse voltar, mas não. Nos dias que se seguiram veio novamente o corrimento claro a variar entre o rosa e o castanho, que indiciava que estivesse no fim. Ontem praticamente não houve nada e hoje também não, até agora. Estou outra vez com o corrimento rosa.

Atendendo que o hipotético ciclo anterior foi de 22 dias, nesta fase dar-se-ia a ovulação. O problema é que as perdas não pararam desde o dia 8 de março.

Pergunto às meninas experientes em menstruações espontâneas se isto é normal. Procurei informação mas não encontrei nada relacionado.

terça-feira, 13 de março de 2018

Planos minimamente definidos

Ontem terminaram as 3 semanas dadas pelo laboratório de anatomia patológica para finalmente saber se havia alguma anomalia no embrião. Consegui contactar o hospital (é muitas vezes uma missão difícil) em que dei conta da efeméride. Avisei também que milagrosamente menstruei all by myself 23 anos depois. Ficou de ser dado o recado à Dra M. para ela ver se no sistema já havia novidades e entrariam em contacto comigo para dizer algo. Passaram mais de 24 horas e continuava sem saber nada.

Esta manhã, depois de muita insistência a diferentes horas, a minha chamada foi atendida. O meu processo estava a ser analisado pela Diretora e por uma colega. Por mais estranho que pareça o resultado ainda não estava pronto e estavam a discutir se se deveria avançar com a FIV mesmo desconhecendo o relatório de anatomia patológica. A administrativa perguntou se eu tinha alguma contraindicação para tomar a pílula. Respondi que não, no entanto nunca me senti bem quando a usava. Questionei se o Provera servia, uma vez que nunca tive problemas com ele. Perguntou também quando veio a menstruação e se ainda tinha fluxo. Dei a indicação que foi no dia 9 e hoje já não tinha praticamente nada. Aguardei mais um pouco para que o recado fosse transmitido e recebesse o feedback. Como a menstruação está a terminar seria muito arriscado iniciar agora a estimulação, então deverei aguardar a próxima menstruação. A administrativa alertou que normalmente não menstruo espontaneamente e, pasme-se, a médica lembrou-se de quem se tratava. O que ficou estipulado foi aguardar até dia 15 de abril para ver se a menstruação se manifesta. Caso não aconteça nada tomo Provera e ao terceiro dia do ciclo começa a saga dos injetáveis. Pode ser que até começar a estimulação o laboratório diga alguma coisa. Quinta-feira já vão ter terminado 12 semanas desde a aspiração. Terá passado quase metade do tempo da gravidez, se tudo tivesse corrido bem e ainda estou a tentar saber se havia algo de errado com o embrião.

Há possibilidade de ainda este mês começar o protocolo da FIV. Se os ovários estiverem cooperantes a punção será em abril, mais provavelmente maio. A transferência que poderá acontecer, não faço a mínima ideia quando irá ser... E assim está a passar o ano, a ocorrer ainda em função de 2017. Acho que não irá suceder nada de muito relevante nos 38 anos. Será uma espécie de "folga" em que continuo com o quotidiano condicionado por causa desta porcaria. Uma área da minha vida está a ser fortemente afetada há anos para poder ter disponibilidade para me dedicar aos tratamentos e não vou conseguir resolver esse capítulo tão cedo.

Por um lado sinto um certo alívio por estar na reta final desta batalha. Preciso de dar uma volta à minha existência. Parece que nada do que faço atualmente tem sentido, porque há sempre uma vírgula chamada infertilidade, que impõe restrições a tudo o que executo. Estou completamente dominada por ela e isso não é viver. No fundo estou subjugada à maldita.