quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Quando o telefone toca

Recebi a chamada que aguardava da enfermeira para fazer o ponto da situação, perguntar se aceitava fazer nova FIV e tomar conhecimento das orientações para o início da sua preparação. Quis saber se já tinha menstruado, então tratei de relembrar que só com medicação isso acontece. Contei que tinha abortado e feito uma aspiração no dia 21 de dezembro, da qual aguardo o resultado da análise citogenética. Pediu que esperasse nova chamada, porque iria falar com a médica para ver o que deveria ser feito. Passados alguns minutos recebi nova chamada. Como o aborto foi recente, no sentido de dar tempo ao corpo para recuperar, a FIV já não será no próximo mês. Além do mais como ainda não sabemos o conteúdo do relatório da análise do material recolhido na aspiração não se poderá avançar para novo tratamento. Deverei aguardar pela carta com a marcação de consulta de anatomia patológica. Nessa altura entrarei em contacto com a Medicina de Reprodução para vermos como se vai proceder. Não sei se o tempo de espera dessas consultas é demorado pese embora não esteja com uma pressa desmedida para voltar a fazer uma estimulação, possivelmente hiperestimular e aguardar mais uns meses por uma TEC. Não é que a idade esteja a meu favor, pois na próxima semana faço 38 anos, sabe-se lá como anda a qualidade dos ovócitos. A última vez que forcei os ovários a trabalharem foi há dois anos e deu no que deu: uma quantidade astronómica de folículos na corrida, 25 puncionados e 12 embriões aparentemente bons, no entanto continuo de mãos a abanar.

Tenho de pensar que esta é a última oportunidade que me é concedida e agarrar-me a isso para manter viva a esperança de que poderá estar aí a solução para o knock out à infertilidade. Tenho consciência que poderei passar por situações ainda mais complicadas do que aquelas que ocorreram até ao momento, com perdas ainda mais penosas, um desgaste maior deste organismo bípede que executa o que outros lhe ordenam e um coração cada vez mais enfraquecido e frio pela dor acumulada.

Não considero que tenha já um calhau no peito, é nesse sentimento que me agarro para envergar a esperança última que vai concluir a minha luta. Os próximos posts serão os derradeiros episódios que dedicarei à enorme batalha que tenho vindo a travar. Ando a pensar no destino que poderei dar ao blogue se o meu ninho ficar definitivamente vazio. Não queria que ele perecesse como a minha guerra, gostava que apesar de não mostrar o sucesso pessoal transmitisse uma mensagem de esperança para o número cada vez maior de casais que se debate com esta epidemia de frustração. Sou apenas uma molécula neste oceano de relatos pessoais em que tropeçamos na blogosfera. Contudo é graças a estas pequenas gotas que vamos juntando peças e descodificando o que nos vai acontecendo, pois a informação dada por quem nos dá ordens para executar é, na maioria das vezes, telegráfica ou até inexistente. Podemos antecipar cenários como forma de atenuar a dor - embora ela exista sempre por muito que pensamos estar preparados - conhecer o nosso corpo um pouco melhor, partilhar sentimentos, dúvidas e essencialmente ajudar, confortar. Reina o silêncio em torno da infertilidade. Mesmo que se tente sensibilizar mais a sociedade para esta doença como aconteceu no início desta semana num programa da TVI, fica tanto por dizer por limitações de tempo no ar ou espaço editorial que parece que isto não é nada de especial e se resolve sempre. É neste âmbito que os blogues, por exemplo, se podem destacar de diversos meios de comunicação social, por possibilitarem uma escrita livre, sem limite de carateres, em que se pode partilhar detalhadamente que mundo é este da infertilidade.

Como estamos em 2018 não queria concluir este post sem desejar o melhor para quem me lê e para quem está, como eu, a tentar dar o golpe de misericórdia à maldita.

3 comentários:

  1. Bom ano querida PL :) Melhor que o anterior pelo menos :)

    Esperança eu já não alimento (quase) nenhuma. Só desejo que nem tu, nem nenhuma "companheira" desta luta chegue ao estado em que me encontro neste momento em termos anímicos. A esperança e a fé (para os crentes) são fundamentais para continuar esta luta. Eu limito-me a cumprir calendário.

    Beijinho

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  2. Não percam a esperança.
    Consegui com 42 anos.nao percam mesmo
    Abraço apertadinho e que venha aí um bafo de sorte para vocês
    Bolinha

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  3. Esperança e força para continuar, qualquer que seja o desfecho, são os meus desejos para si em 2018. Bom ano.

    MM

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